Bom Dia - O Diário do Médio Piracicaba

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04/11/2018 19h01

Tr?s anos depois do rompimento da barragem do Fund?o, o pesadelo continua

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<p> Mariana e Barra Longa &ndash; Na Justi&ccedil;a criminal ou nos tribunais c&iacute;veis, a trag&eacute;dia do rompimento da Barragem do Fund&atilde;o permanece, tr&ecirc;s anos depois &ndash; que se completam nesta segunda-feira, 5, uma quest&atilde;o sem resposta para as quase 500 mil pessoas atingidas entre Minas Gerais e o Esp&iacute;rito Santo. Nem mesmo as fam&iacute;lias dos 19 mortos soterrados pelo tsunami de 40 milh&otilde;es de metros c&uacute;bicos (m&sup3;) de lama e rejeitos de min&eacute;rio de ferro receberam uma compensa&ccedil;&atilde;o financeira condizente com a sua perda. Segundo a mineradora Samarco, os acordos foram firmados com 16 fam&iacute;lias, mas a empresa n&atilde;o revela os valores pagos a esses parentes de v&iacute;timas, sendo que 14 deles trabalhavam no complexo miner&aacute;rio e outros cinco estavam no subdistrito de Bento Rodrigues, em Mariana. &ldquo;Aquilo que a gente mais quer &eacute; voltar a ter a nossa casa, nossos vizinhos. J&aacute; passou muito tempo para um sofrimento desses e a gente ainda ficava sem saber se ia ser pago, se ia ficar tudo por isso mesmo&rdquo;, disse o comerciante Mauro Marques da Silva, de 49 anos, que vivia em Bento Rodrigues e atualmente mora numa casa alugada no Centro de Mariana. A estimativa mais otimista dos promotores de Justi&ccedil;a que atuam na for&ccedil;a-tarefa do Rio Doce &eacute; de que os ressarcimentos comecem a ser pagos em meados de 2020.</p> <p> Mesmo nas a&ccedil;&otilde;es tidas como emergenciais, a repara&ccedil;&atilde;o ainda n&atilde;o &eacute; completa. Segundo a Funda&ccedil;&atilde;o Renova, 38 mil cadastros de atingidos foram feitos, sendo que 30.788 (79%) foram encaminhados para o Comit&ecirc; Interfederativo (CIF), formado pelos governos nacional, de Minas Gerais e do Esp&iacute;rito Santo e seus &oacute;rg&atilde;os ambientais. Os cadastros abrangem em torno de 80 mil pessoas. Em Mariana, foram realizadas 897 entrevistas de cadastramento e 371 vistorias nos im&oacute;veis, de um total de 526 propriedades estimadas.</p> <p> A Funda&ccedil;&atilde;o Renova contabiliza um pagamento de R$ 1,2 bilh&atilde;o a t&iacute;tulo de aux&iacute;lios e compensa&ccedil;&otilde;es, dos quais apenas R$ 314 milh&otilde;es indenizaram 7.527 pessoas por danos diversos ap&oacute;s o rompimento, uma m&eacute;dia de R$ 42 mil para cada atingido. Atualmente, 10.777 fam&iacute;lias recebem um aux&iacute;lio mensal de um sal&aacute;rio m&iacute;nimo, acrescido de 20% por dependente e do equivalente a uma cesta b&aacute;sica do Dieese. S&atilde;o 25.123 pessoas atingidas. Outros R$ 256 milh&otilde;es foram gastos para indenizar pessoas que ficaram sem abastecimento de &aacute;gua devido &agrave; polui&ccedil;&atilde;o do Rio Doce, como em Governador Valadares, maior munic&iacute;pio da bacia, com 280 mil habitantes. Ao todo, 254.288 pessoas foram indenizadas por danos decorrentes da suspens&atilde;o tempor&aacute;ria no abastecimento de &aacute;gua, uma m&eacute;dia de R$ 1.006. Mais de 1.500 atingidos ind&iacute;genas e oriundos de comunidades tradicionais do Rio Doce, como quilombolas, foram identificados e recebem o abastecimento de &aacute;gua por meio de caminh&otilde;es-pipa e po&ccedil;os.</p> <p> A brutal mudan&ccedil;a na rotina dos atingidos, sobretudo os desalojados de Mariana, trouxe impactos &agrave; sa&uacute;de mental, mas at&eacute; hoje a extens&atilde;o desses danos ainda n&atilde;o &eacute; mensurada pela Renova. De acordo com a funda&ccedil;&atilde;o, ser&atilde;o realizados &ldquo;estudos para avaliar dados epidemiol&oacute;gicos, de sa&uacute;de do trabalhador, sa&uacute;de mental e toxicol&oacute;gicos para identificar o perfil sanit&aacute;rio dos atingidos&rdquo;. V&atilde;o ser reassentadas 225 fam&iacute;lias de Bento Rodrigues, 140 de Paracatu de Baixo e 26 de Gesteira (Barra Longa). As obras para o novo distrito de Bento Rodrigues come&ccedil;aram em agosto e devem terminar no fim de 2020. O projeto urban&iacute;stico de Paracatu de Baixo foi aprovado em setembro, num terreno de 65 hectares indicado pela comunidade. Em Gesteira, o local escolhido fica a dois quil&ocirc;metros das casas destru&iacute;das pela passagem da lama.</p> <p> Nos tr&ecirc;s anos dessa trag&eacute;dia, a Renova contabilizou cerca de mil obras de recupera&ccedil;&atilde;o de infraestruturas danificadas ap&oacute;s o rompimento, como casas, propriedades rurais e escolas, reconstru&ccedil;&atilde;o de pontes, cercas, currais, po&ccedil;os artesianos e pinguelas, conten&ccedil;&otilde;es de taludes e encostas. Ao todo, 141,6 quil&ocirc;metros de acessos foram reformados ou passaram por manuten&ccedil;&atilde;o e refeitos 205 quil&ocirc;metros de cercamentos em propriedades rurais. Foram 101 resid&ecirc;ncias e propriedades rurais reformadas, al&eacute;m de 26 com&eacute;rcios e 186 quintais e lotes. Tamb&eacute;m foram entregues a nova Pra&ccedil;a Manoel Lino Mol, a Avenida Beira Rio, a Escola Municipal Gustavo Capanema, a quadra poliesportiva e a pra&ccedil;a do distrito de Gesteira. Parte dos 157 mil metros c&uacute;bicos de rejeitos retirados do munic&iacute;pio foi deslocada para o Parque de Exposi&ccedil;&otilde;es para amplia&ccedil;&atilde;o da &aacute;rea.</p> <p> A empresa contratada para apurar as causas e a din&acirc;mica do rompimento da Barragem do Fund&atilde;o apontou que houve erros no processo de constru&ccedil;&atilde;o do reservat&oacute;rio e tentativas infrut&iacute;feras de contornar os problemas.</p> <p> <strong>Dezenove mortes e nenhum condenado</strong></p> <p> Laudo da empresa contratada para levantar quais as causas e a din&acirc;mica de rompimento da Barragem do Fund&atilde;o (veja mapa), a Cleary Gottlieb Steen &amp; Hamilton LLP (CGSH) deixa claro que houve erros no processo construtivo do reservat&oacute;rio, mas que tais problemas foram atropelados por tentativas infrut&iacute;feras de contornar os problemas.</p> <p> A consultoria foi contratada justamente pelas mineradoras BHP Billiton e Vale, que s&atilde;o as controladoras da Samarco. Mesmo com essa indica&ccedil;&atilde;o de conhecimento dos problemas e de a Samarco assumir riscos de ir adiante com as obras de implanta&ccedil;&atilde;o e amplia&ccedil;&atilde;o do reservat&oacute;rio de quase 50 milh&otilde;es de metros c&uacute;bicos (m&sup3;) de rejeitos, at&eacute; hoje a Justi&ccedil;a Federal n&atilde;o condenou ningu&eacute;m pelo maior desastre socioambiental do pa&iacute;s. Pelo contr&aacute;rio. O temor dos parentes das v&iacute;timas &eacute; de que manobras jur&iacute;dicas que t&ecirc;m ocorrido possam tornar os crimes mais leves, livrando os executivos e administradores de penas severas. &ldquo;Acho que v&atilde;o todos ficar sem puni&ccedil;&atilde;o. A empresa (Samarco) tem muita for&ccedil;a. S&oacute; n&atilde;o pode mais do que Deus&rdquo;, disse a dona de casa Marli de F&aacute;tima Fel&iacute;cio Felipe, de 34 anos, que perdeu a m&atilde;e na trag&eacute;dia, n&atilde;o foi indenizada e n&atilde;o acredita que a Justi&ccedil;a punir&aacute; criminalmente os r&eacute;us.</p> <p> Em 9 de outubro, nova derrota no caso das mortes de 19 pessoas. Um executivo da Samarco teve a den&uacute;ncia feita pelo Minist&eacute;rio P&uacute;blico Federal (MPF) revertido pelos desembargadores do Tribunal Regional Federal da 1&ordf; Regi&atilde;o (TRF-1) para inunda&ccedil;&atilde;o seguida de morte.</p> <p> A pena original poderia chegar a 30 anos, enquanto a do crime de inunda&ccedil;&atilde;o n&atilde;o passa de 8. Andr&eacute; Ferreira Cardoso era o representante da BHP Billiton no conselho da Samarco. Ele tamb&eacute;m recebeu um habeas corpus. Outro executivo, Jos&eacute; Carlos Martins, que integrava o conselho da Samarco em nome da Vale, teve a sua a&ccedil;&atilde;o extinta e o processo foi trancado. O MPF recorre da decis&atilde;o, que pode valer para os demais 21 acusados de homic&iacute;dio. Ao todo, 22 pessoas respondem por crime ambiental.</p> <p> No momento em que a trag&eacute;dia completa tr&ecirc;s anos &ndash; a data exata &eacute; dia 5 &ndash;, o sentimento &eacute; de que uma justa repara&ccedil;&atilde;o ainda est&aacute; muito distante da vida dos atingidos. &ldquo;N&atilde;o recebi nenhuma indeniza&ccedil;&atilde;o pela perda da minha m&atilde;e. N&atilde;o entrei no processo dos estrangeiros &ndash; que v&atilde;o processar a BHP Billiton no Reino Unido. Estou morando em Mariana, num lugar muito diferente do que tinha em Bento Rodrigues (o distrito mais arrasado do munic&iacute;pio)&rdquo;, conta Marli. A m&atilde;e dela, Maria das Gra&ccedil;as Celestino da Silva, de 64, tinha sa&iacute;do de casa na tarde do acidente para ir at&eacute; um pequeno estabelecimento comercial dentro da vila. Quando passou no quintal da sogra de Marli, as duas mulheres foram arrebatadas pela lama que desceu e soterrou Bento Rodrigues. &ldquo;Minha sogra quebrou uma perna e sofreu muito para fugir com vida. Ela foi a &uacute;ltima pessoa que viu minha m&atilde;e sendo levada pela lama&rdquo;, lembra a dona de casa.</p> <p> Para ela, a entrega das casas de reassentamento que ser&atilde;o feitas em 2020 podem trazer um al&iacute;vio moment&acirc;neo, que s&oacute; vai poder ser sentido quando as pessoas finalmente se adaptarem. &ldquo;&Eacute; um lugar diferente daquele a que estamos acostumados. Por isso, temos que ir para l&aacute; e morar por um tempo para ver como vai ser, como ser&atilde;o as casas e a vizinhan&ccedil;a&rdquo;, afirma Marli. De acordo com a Funda&ccedil;&atilde;o Renova, que foi constitu&iacute;da para tratar da repara&ccedil;&atilde;o dos danos da trag&eacute;dia, o reassentamento na propriedade de Lavoura, a menos de dois quil&ocirc;metros da antiga vila, dever&aacute; ficar pronto em 2020. &ldquo;S&atilde;o 225 fam&iacute;lias em Bento Rodrigues, 140 em Paracatu de Baixo e 26 em Gesteira. At&eacute; que as vilas sejam reconstru&iacute;das, todos (os atingidos) t&ecirc;m os gastos com moradia custeados pela Funda&ccedil;&atilde;o Renova, que atualmente aluga cerca de 300 casas na regi&atilde;o de Mariana (MG).</p> <p> Comunidades como a do produtor rural de Barra Longa Mario Ant&ocirc;nio Ferreira, de 70, ainda que n&atilde;o indenizadas, recebem aux&iacute;lios e passam por a&ccedil;&otilde;es que poder&atilde;o tornar suas atividades mais sustent&aacute;veis e adequadas &agrave; legisla&ccedil;&atilde;o ambiental. Ele, no caso, teve v&aacute;rios danos e nenhuma indeniza&ccedil;&atilde;o ainda. A lama isolou sua propriedade atolando estradas e destruindo pontes de comunidades onde havia estabelecimentos para venda de produtos e acesso a mantimentos. A rede de mata-burros que impedia a passagem da boiada tamb&eacute;m foi destru&iacute;da, bem como o acesso ao rio para a boiada beber e o caminho ao capim para o trato do gado. Como nenhuma dessas estruturas ainda n&atilde;o foi recuperada, a Funda&ccedil;&atilde;o Renova buscou outros meios auxiliando pastagens em locais mais altos e que eram menos produtivos, a renderem mais pelo sistema de revezamento e descanso chamado de piquetes. &ldquo;A &aacute;gua aqui da nascente foi cercada e est&aacute; dando para abastecer o gado e a gente. Ainda falta muito, mas com a ajuda que estamos recebendo a gente est&aacute; conseguindo seguir adiante&rdquo;, disso o produtor rural.</p> <p> <strong>Impacto econ&ocirc;mico</strong></p> <p> Outro grave problema causado pelo rompimento da Barragem do Fund&atilde;o foi a interrup&ccedil;&atilde;o dos trabalhos da Samarco, que tinha 5 mil empregados diretos e indiretos. Sem a Barragem do Fund&atilde;o para estocar os rejeitos da extra&ccedil;&atilde;o de min&eacute;rio de ferro, a Samarco s&oacute; poder&aacute; voltar a funcionar quando a cava da mina de Alegria Sul puder ser usada para o dep&oacute;sito desse material. A estimativa &eacute; de que essa cavidade, originalmente aberta para a extra&ccedil;&atilde;o de min&eacute;rio, esteja adaptada para receber rejeitos at&eacute; agosto de 2019. Ela foi projetada para receber 16 milh&otilde;es de metros c&uacute;bicos de rejeitos. A Barragem do Fund&atilde;o despejou 40 milh&otilde;es de metros c&uacute;bicos de rejeitos ao se romper, restando, ainda, cerca de 6,5 milh&otilde;es de metros c&uacute;bicos no local.</p> <p> No pico das interven&ccedil;&otilde;es, cerca de 750 empregados diretos e indiretos ser&atilde;o contratados. A Samarco se comprometeu a empregar de 75% a 80% de m&atilde;o de obra local, o que trar&aacute; um certo al&iacute;vio &agrave; popula&ccedil;&atilde;o de Mariana, boa parte dela envolvida na atividade mineral e que sentiu diretamente o impacto da paralisa&ccedil;&atilde;o das opera&ccedil;&otilde;es da mineradora e de suas terceirizadas.</p> <p> A Samarco obteve, em dezembro de 2017, junto &agrave; Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustent&aacute;vel de Minas Gerais (Semad), as licen&ccedil;as pr&eacute;via (LP) e de instala&ccedil;&atilde;o (LI), que permitem a prepara&ccedil;&atilde;o do local. Mas, para operar, ainda precisa conseguir com os &oacute;rg&atilde;os ambientais o Licenciamento Operacional Corretivo (LOC). A expectativa &eacute; de que a autoriza&ccedil;&atilde;o seja concedida no ano que vem. Por isso, a empresa prefere n&atilde;o estimar uma data de retorno &agrave;s suas atividades.</p> <p> <strong>REINO UNIDO</strong></p> <p> O escrit&oacute;rio anglo-americano SPG Law vai apresentar&nbsp; processo &agrave;s cortes da Inglaterra e do Pa&iacute;s de Gales contra a BHP Billiton SPL, uma das controladoras da Samarco. A causa, estimada em 5 bilh&otilde;es de libras (cerca de R$ 24 bilh&otilde;es), previa arrolar cerca de 100 mil atingidos, mas esse n&uacute;mero foi superado, chegando &agrave; casa dos 200 mil.</p> <p style="text-align: right;"> <strong><em>Fonte: UAI Portal</em></strong></p>

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