27/09/2025 21h22
Coluna Marcos Martino
Tudo passa. Dizem que a boemia que sempre inspirou poetas e canções está morrendo. Prova disso é que muitas casas noturnas vem fechando pelo planeta à fora.
Segundo pesquisas, as novas gerações estão abdicando do costume de varar a madrugada, de enlouquecer, de enfiar o pé na jaca (sobre influência da lua, das estrelas, do vinho e outros venenos).
Será que é pela falta de segurança, pelo crescimento da violência? Isso conta! Mas não dá pra dizer que é só por causa disso. O fenômeno vem acontecendo também em países onde segurança não é problema. Pode ser por comodidade mesmo. As pessoas criam zonas de conforto e se isolam em suas bolhas. Em casa tem streamings de vídeo e música, tem o instagram e várias redes sociais pra administrar, tem segurança, pode-se pedir um delivery e tá resolvido, quando cansar é só deitar na própria cama pra acordar no outro dia e continuar rodando o looping.
Dizem que a geração Z está mais preocupada com a saúde. Prefere se alimentar com qualidade, se hidratar e fazer exercícios regulares do se acabar nas bebidas e nas drogas. Prefere shows e festivais matinés pra não perder a noite de sono. Prefere academia do que boteco. Não quer mais viver paixões e excessos, não quer dançar e buscar sexo desenfreado e promíscuo, como foi com a geração dos pais (que os envergonha).
Já vi “uns véio” dizendo que as novas gerações deram uma encaretada. Será que encaretar é ter juízo? E ter juízo é bom? Não sei! Muitas coisas boas são feitas de madrugada. Até os filhos. Se os “novinhos” tão querem curtir a noitada, é escolha deles. Aliás, nem sei se é escolha deles ou dos que manipulam o comportamento.
Nossa geração viveu a “night”. A volta do Boêmio” é um hino, assim como Boate Azul (que a essas alturas fechou e virou igreja).
Na memória continuam vivas as serenatas que fazíamos em Alvinópolis. Caprichávamos nos vocais, tinha sempre um bandolim e violões. E tinha o clima, a cerração, os sons dos galos da madrugada, os companheiros de cantoria que sempre levavam vinho ou bravo(uma bebida inventada pelo Luis Carlos do Nicks). Eram muitas entidades noturnas, muitas assombrações, mas não havia medo. Havia encantamento. A gente ficava esperando as meninas piscarem as luzes, sinal que estavam ouvindo.
Será que a juventude de hoje continua fazendo serenatas? De vez em quando tem umas com carros de som, com locutor, música romântica e luzes. Mas nunca depois da meia-noite.
Dizem que a madrugada morreu. Se morreu, ressuscita todos os dias. A boemia não vai acabar. Pode diminuir de tamanho. Da fogueira sobra a brasa. Basta um sopro pra acender a fornalha. Será pra poucos, pros rebeldes, pros que fogem da manada.
Eu reinvento a madrugada. Ao invés de dormir, acordo as 3 pra pensar com a mente fresca, pra estudar, pra escrever. As vezes abro a janela, cheiro a noite, vejo o sol nascer e ouço ao longe uma canção conhecida: - Boemia, aqui me tens de regresso...