Bom Dia - O Diário do Médio Piracicaba

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23/03/2018 06h43

Dia da ?gua, dia da vergonha

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<p> Somos constitu&iacute;dos basicamente de &aacute;gua. A vida, como a conhecemos, &eacute; &aacute;gua. N&atilde;o por outro motivo, enquanto destru&iacute;mos a qualidade da &aacute;gua da Terra, buscamos em outros planetas esse mesmo elemento para identificar, potencialmente, a vida que n&atilde;o respeitamos e exterminamos por aqui. Coisa que nem Freud explica.</p> <p> Nesse tal dia da &aacute;gua, comemora-se n&atilde;o sei bem o qu&ecirc;, num pa&iacute;s que apesar de megadiverso e uma das principais pot&ecirc;ncias h&iacute;dricas do planeta, pouca ou quase nenhuma import&acirc;ncia d&aacute; ao tema, tendo, muito pelo contr&aacute;rio, se especializado em destruir esse estrat&eacute;gico recurso natural.</p> <p> Para isso, basta ver a situa&ccedil;&atilde;o do saneamento no pa&iacute;s, retratada por organiza&ccedil;&otilde;es especializadas, onde o esgoto de metade da popula&ccedil;&atilde;o n&atilde;o recebe qualquer tipo de coleta ou tratamento, isto &eacute;, sai direto da latrina para valas, rios, lagoas, ba&iacute;as etc.</p> <p> Se levarmos em conta a segunda regi&atilde;o metropolitana do Brasil, a situa&ccedil;&atilde;o beira ao esc&aacute;rnio, ao terrorismo ambiental de Estado, onde tudo &eacute; aceit&aacute;vel desde que gere alguma vantagem econ&ocirc;mica para o degradador, seja ele quem for. Sobrevoando a Regi&atilde;o Metropolitana do Rio de Janeiro desde 1997, tenho acompanhado a transforma&ccedil;&atilde;o de praticamente todos os rios da regi&atilde;o em imensos val&otilde;es de esgoto e lixo sem vida, fruto do crescimento urbano desordenado e da falta da universaliza&ccedil;&atilde;o do servi&ccedil;o de coleta e tratamento de esgoto.</p> <p> Fruto da transforma&ccedil;&atilde;o do saneamento numa m&aacute;quina de fazer dinheiro f&aacute;cil, uma grande maioria paga por servi&ccedil;os casados, ou seja, &aacute;gua e esgoto, sem que esse segundo produto normalmente seja entregue. Em detrimento desse estelionato institucionalizado, quem det&eacute;m o monop&oacute;lio do servi&ccedil;o cobrado, e n&atilde;o prestado, transforma todos os corpos d&rsquo;&aacute;gua, doces, salgados ou salobros, em latrinas, impetrando contra sua fauna associada o exterm&iacute;nio de qualquer coisa que precise de oxig&ecirc;nio para sobreviver.&nbsp;</p> <p> Independentemente de qual seja a regi&atilde;o, pobre ou rica, o tratamento dado &agrave; &aacute;gua &eacute; t&iacute;pico das col&ocirc;nias de explora&ccedil;&atilde;o, que t&ecirc;m por objetivo usar o recurso, seja ele qual for, at&eacute; seu esgotamento em detrimento da maior vantagem econ&ocirc;mica poss&iacute;vel no menor espa&ccedil;o de tempo poss&iacute;vel.</p> <p> Nada parece obrigar os tomadores de decis&atilde;o p&uacute;blicos, muitos dos quais eleitos pelo &ldquo;polvo&rdquo;, a mudarem a trajet&oacute;ria de exterm&iacute;nio da qualidade da &aacute;gua, bem como dos que dela dependem.</p> <p> Destaco a situa&ccedil;&atilde;o degradante do ponto de capta&ccedil;&atilde;o de &aacute;gua da esta&ccedil;&atilde;o de tratamento do Guandu, onde tr&ecirc;s val&otilde;es de esgoto despejam diariamente milhares de metros c&uacute;bicos de esgoto na &aacute;gua que ser&aacute; utilizada para abastecer por volta de 75% da popula&ccedil;&atilde;o da Regi&atilde;o Metropolitana do Rio. Mesmo que devidamente tratada, transformando aquela pasta de esgoto em &aacute;gua pot&aacute;vel, h&aacute; de se chamar a aten&ccedil;&atilde;o que tantos outros poluentes, contaminantes tais como horm&ocirc;nios, metais pesados e toxinas oriundas de potenciais flora&ccedil;&otilde;es de cianobact&eacute;rias n&atilde;o s&atilde;o removidos da &aacute;gua tratada. Portanto, imaginem o que chega de fato em nossas torneiras!</p> <p> No tenho d&uacute;vida de que, no dia da &aacute;gua, muitas das excel&ecirc;ncias, que pouco se importam com a gest&atilde;o de fato de nossos corpos d&rsquo;&aacute;gua e de seus ecossistemas associados, estar&atilde;o no tal dia falando sobre sua import&acirc;ncia e como devemos agir civilizadamente para proteg&ecirc;-la e bl&aacute;-bl&aacute;-bl&aacute;. Acredita nessa turma quem n&atilde;o a conhece de perto.</p> <p> Eu, da minha parte, vou sendo um solit&aacute;rio lambe-lambe a&eacute;reo do s&eacute;culo 21, retratando e denunciando em imagens a barb&aacute;rie, a hipocrisia, a prepot&ecirc;ncia de uma cultura voltada exclusivamente em usar at&eacute; acabar. Destaco que do jeito que vai, vai acabar mal para todos n&oacute;s que dependemos da &aacute;gua e que, at&eacute; provem o contr&aacute;rio, por muito tempo ainda, apenas temos este belo Planeta &Aacute;gua para viver.</p> <p> <strong><em>Fonte: Jornal do Brasil</em></strong></p> <p> <strong><em>* MARIO MOSCATELLI - Bi&oacute;logo, mestre em ecologia e especialista em Gest&atilde;o e Recupera&ccedil;&atilde;o de Ecossistemas Costeiros</em></strong></p>

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