Bom Dia - O Diário do Médio Piracicaba

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20/03/2018 20h17

O Desafios urgentes para a ?gua no Brasil

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<p> * Marussia Whately</p> <p> A garantia do direito &agrave; agua no Brasil diante de uma transi&ccedil;&atilde;o &ldquo;para uma nova cultura de cuidado com a &aacute;gua se faz urgente e necess&aacute;ria&rdquo;.</p> <p> Garantir &aacute;gua em quantidade e qualidade adequadas para todos os seres humanos e atividades econ&ocirc;micas em um mundo cada vez mais habitado, quente e seco &eacute; um dos grandes desafios da humanidade no s&eacute;culo 21.</p> <p> As crises h&iacute;dricas em diferentes regi&otilde;es do planeta s&atilde;o uma boa amostra do que nos espera no futuro e refor&ccedil;am a urg&ecirc;ncia em construirmos uma nova forma de viver e se relacionar com a &aacute;gua.</p> <p> O s&eacute;culo 20 foi a &ldquo;era dourada da &aacute;gua&rdquo;. Represamos e mudamos o curso de grandes rios, como o Colorado nos EUA e o rio Paran&aacute; no Brasil. Passamos a retirar &aacute;gua de aqu&iacute;feros localizados a centenas de metros de profundidade, como o Aqu&iacute;fero Guarani.</p> <p> Boa parte desse aumento de consumo foi impulsionado pela Revolu&ccedil;&atilde;o Verde, que expandiu as fronteiras agr&iacute;colas por todo o planeta. A minera&ccedil;&atilde;o passou a alterar paisagens e consumir volumes incr&iacute;veis de &aacute;gua para suprir padr&otilde;es de produ&ccedil;&atilde;o e consumo. Desmatamos extensas &aacute;reas de florestas e passamos a despejar todo tipo de polui&ccedil;&atilde;o nos rios, lagos e oceanos.</p> <p> No Brasil, que tem 12% da &aacute;gua doce do planeta, a situa&ccedil;&atilde;o &eacute; cr&iacute;tica: em 2015, um em cada tr&ecirc;s munic&iacute;pios decretou emerg&ecirc;ncia por causa de estiagem. Grande parte desses munic&iacute;pios est&aacute; no Nordeste do pa&iacute;s. O rico estado de S&atilde;o Paulo chegou perto, muito perto, de um colapso de abastecimento de &aacute;gua para os 20 milh&otilde;es de habitantes residentes na capital e demais munic&iacute;pios da regi&atilde;o metropolitana.</p> <p> As principais fontes de degrada&ccedil;&atilde;o da &aacute;gua no Brasil s&atilde;o: polui&ccedil;&atilde;o por esgotos dom&eacute;sticos e toda a sorte de polui&ccedil;&atilde;o gerada nas cidades; contamina&ccedil;&atilde;o por fertilizantes e agrot&oacute;xicos; superexplora&ccedil;&atilde;o e polui&ccedil;&atilde;o resultante de processos de minera&ccedil;&atilde;o - sem contar o alto risco da atividade, como ficou provado pelo ainda impune rompimento de barragens em Mariana (MG). Associado a todos esses processos, est&aacute; o desmatamento em escala local, regional e nacional, comprometendo as condi&ccedil;&otilde;es naturais de renova&ccedil;&atilde;o de &aacute;gua e a capacidade de resistir &agrave;s varia&ccedil;&otilde;es do clima.</p> <p> Segundo dados da Ag&ecirc;ncia Nacional de &Aacute;gua, a irriga&ccedil;&atilde;o &eacute; respons&aacute;vel por 75% do consumo de &aacute;gua no Brasil. Em segundo lugar, vem o abastecimento animal, que consome 9% da &aacute;gua, seguido pelo abastecimento dos cerca de 160 milh&otilde;es de brasileiros que vivem em &aacute;reas urbanas.&nbsp;</p> <p> O saneamento b&aacute;sico tem indicadores medievais: 100 milh&otilde;es de brasileiros n&atilde;o t&ecirc;m seus esgotos sequer coletados, e praticamente todos os corpos d&rsquo;&aacute;gua localizados em &aacute;reas urbanas encontram-se polu&iacute;dos.</p> <p> N&atilde;o &eacute; poss&iacute;vel substituir &aacute;gua doce por querosene, ou qualquer outra subst&acirc;ncia, ent&atilde;o, a transi&ccedil;&atilde;o para uma &ldquo;nova cultura de cuidado com a &aacute;gua&rdquo; se faz urgente e necess&aacute;ria.</p> <p> Esse termo vem sendo usado pela Alian&ccedil;a pela &Aacute;gua, articula&ccedil;&atilde;o de organiza&ccedil;&otilde;es da sociedade civil criada em 2014 e da qual sou uma das idealizadoras.</p> <p> Essa nova cultura tem tr&ecirc;s princ&iacute;pios norteadores: &aacute;gua &eacute; um direito humano e n&atilde;o mercadoria; a boa governan&ccedil;a por meio de corresponsabilidade entre sociedade e diferentes inst&acirc;ncias de governo; e a manuten&ccedil;&atilde;o dos ecossistemas que suportam os processos de renova&ccedil;&atilde;o da &aacute;gua doce no planeta. A &ldquo;seguran&ccedil;a h&iacute;drica&rdquo; ou &ldquo;seguran&ccedil;a da &aacute;gua&rdquo; resultante dessa nova cultura contempla as m&uacute;ltiplas dimens&otilde;es da &aacute;gua em nossas vidas e integra pol&iacute;ticas para: recuperar e proteger as fontes de &aacute;gua em &aacute;reas rurais e urbanas; redu&ccedil;&atilde;o de desperd&iacute;cio - como as perdas nas redes de abastecimento de &aacute;gua - e consumo; tratamento e reutiliza&ccedil;&atilde;o dos efluentes sempre que poss&iacute;vel; transpar&ecirc;ncia, informa&ccedil;&atilde;o qualificada e controle social; e instrumentos para garantir essa transi&ccedil;&atilde;o, por meio de pol&iacute;ticas p&uacute;blicas e incentivos econ&ocirc;micos, como outorgas de uso e tarifas de servi&ccedil;os de abastecimento.</p> <p> Com o novo marco legal de saneamento aprovado em 2007, os munic&iacute;pios, at&eacute; hoje deixados em segundo plano na gest&atilde;o de recursos h&iacute;dricos, passaram a ser os grandes respons&aacute;veis pelo &ldquo;manejo integrado da &aacute;gua&rdquo;. Por meio de pol&iacute;ticas, planos, programas e presta&ccedil;&atilde;o de servi&ccedil;os, devem garantir a qualidade da &aacute;gua consumida pela popula&ccedil;&atilde;o e evitar a prolifera&ccedil;&atilde;o de doen&ccedil;as.</p> <p> Para exercer a titularidade do saneamento - que pode ser exclusiva ou compartilhada com outros munic&iacute;pios e governos estaduais - devem planejar e implantar, garantindo participa&ccedil;&atilde;o e controle social, pol&iacute;ticas municipais de &ldquo;seguran&ccedil;a da &aacute;gua&rdquo;, que integrem a sa&uacute;de, com preven&ccedil;&atilde;o de desastres, presta&ccedil;&atilde;o de servi&ccedil;os de saneamento (&aacute;gua, esgoto, drenagem e lixo) e a&ccedil;&otilde;es de interesse local, como capta&ccedil;&atilde;o de &aacute;gua de chuva e revitaliza&ccedil;&atilde;o de c&oacute;rregos e rios localizados dentro de seus territ&oacute;rios.</p> <p> Est&aacute; mais do que na hora de responsabilizar e comprometer prefeitos e vereadores com o urgente salto civilizat&oacute;rio do saneamento no Brasil.&nbsp;</p> <p align="right"> <em>*Marussia Whately &eacute; arquiteta e urbanista com especializa&ccedil;&atilde;o em gest&atilde;o de recursos h&iacute;dricos e uma das mais importantes refer&ecirc;ncias sobre assuntos relacionados &agrave; &aacute;gua e ao saneamento. </em></p>

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