09/02/2018 09h14
O Carnaval e o Vale Loucura
O Carnaval e o Vale Loucura
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O melhor do Carnaval é que gente tem licença pra ser louco. É sério! A gente ganha um vale- loucura pra usar por 4 dias. Aproveite o seu. Hoje estou mais pacato, mas já fiz algumas estripulias.</p>
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Certa vez me vesti de juiz de futebol. Fantasia de autoridade? Pode ser! Freud explica, mas não cabe. Arrumei um apito bacana, uma roupa preta e um monte de cartões: vermelho, amarelo, verde, azul e branco. Sai expulsando um monte de gente. Claro, muito bêbado pra amortecer o vexame. Mas... vexame por que? No carnaval tudo pode.</p>
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Também já me fantasiei de árabe. Bem clichê. Mas acabou que vários tiveram a mesma ideia e rolou uma comunidade no clube que se juntava pra beber e fazer bagunça. Pena que só tinha homens. As 12 virgens deviam esperar no paraíso.</p>
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Já vi neguim fazendo cada coisa. Fiquei surpreso quando vi doutor e gerente autoritário rebolando na boquinha da garrafa. Não esperava tamanha transgressão. Mas no carnaval pode! Tem muita gente que aproveita pra sair do armário também. Sabem como é que é né? Vestem-se de mulheres e se sentem tão à vontade que a roupa acaba colando. Outros gostam do teatro mesmo, de brincar com os papéis.</p>
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Antigamente o pessoal se fantasiava mais. Jamais me esquecerei de um sujeito que ficava hospedado na casa do meu avô. Ele fantasiou-se de astronauta. Não sei como conseguiu uma fantasia tão perfeita. Só que em suas costas não havia tubos de oxigênio como nos filmes. Havia é cachaça... e saia um canudinho ligado ao seu capacete onde ele ia se abastecendo no meio dos blocos. Muitos vinham pegar um pouco de oxigênio com ele.</p>
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Depois lembro-me também de pessoas que viravam drags e escandalizavam. Não buscavam a exuberância das drags atuais, mas o ridículo. Usavam decotes cavadíssimos e tanguinhas minúsculas. De vez em quando levantavam as saias e mostravam o que não deviam. Mas é Carnaval. Tudo pode.</p>
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Antigamente o lança perfume era liberado. E a turma que não tinha grana pra comprar fazia seus lolós. As meninas desfaleciam e aproveitavam pra beijar e beijar e beijar sem discriminar bocas.</p>
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Além do vale-loucura, o Carnaval tem a cultura. Tem a música exuberante, os ritmos de cada época, as memórias de tantos folias, romances e loucuras. Tem as escolas de samba, que trazem sempre temas atuais ou homenageiam a história. Tem as baterias e batucadas, com suas pulsações, corações sincronizados no compasso do maestro. Tem os blocos, onde pessoas se reúnem por tesões compartilhados, pelo desejo de se agregar nas afinidades sonoras ou estéticas. Tem a democracia, do Carnaval em todos os gêneros, sejam com marchinhas, sambas, axé, rock, jazz, beatles, sertanejo. Vale tudo. Tem toda uma indústria e uma economia, quando artistas, bares, restaurantes e ambulantes tem como faturar seu ganha-pão. E tem o maravilhoso vale-loucura, a permissão pra pirar, beber de cair, beijar muito, viver as fantasias e ser feliz sem limites. E você? Qual é a sua fantasia?</p>