Bom Dia - O Diário do Médio Piracicaba

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15/12/2017 17h58

Os Sinos Anunciam - Futuro?

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<p> Um dos mitos nacionais mais recorrentes &eacute; que o &ldquo;Brasil &eacute; o pa&iacute;s do futuro&rdquo;. No hino nacional est&aacute; escrito que o Brasil &eacute; um &ldquo;gigante pela pr&oacute;pria natureza&rdquo; e, por suposto, em constante crescimento e com um futuro grandioso pela frente.</p> <p> V&aacute;rios soci&oacute;logos e &iacute;cones da brasilidade difundiram a ideia de que esse gigante, em algum momento, iria se levantar de seu ber&ccedil;o espl&ecirc;ndido e surgiria uma maravilhosa sociedade morena (miscigenada), tropical e cordial. Uma na&ccedil;&atilde;o que encantaria o mundo com sua alegria, molejo e improviso. O destino maravilhoso j&aacute; estaria tra&ccedil;ado por sua dimens&atilde;o continental, pois &ldquo;se plantando, tudo d&aacute;&rdquo;. Todo brasileiro sabe cantar o refr&atilde;o: &ldquo;Estou me guardando pra quando o carnaval chegar&rdquo;.</p> <p> Mas como diria Maquiavel, nossas a&ccedil;&otilde;es s&atilde;o governadas pela fortuna ou pela virt&ugrave;. A fortuna &eacute; o acaso, a sina, a sorte, etc. J&aacute; a virt&ugrave; &eacute; aquilo que vem de uma delibera&ccedil;&atilde;o madura e de um planejamento de longo prazo. Confiar na fortuna &eacute; dar chance pro azar.</p> <p> Assim, no espontane&iacute;smo, o futuro de paz e prosperidade pode n&atilde;o chegar. &Eacute; claro que o tempo n&atilde;o para e o ano de 2022 vai ocorrer. Mas em vez de trazer &ldquo;raios f&uacute;lgidos&rdquo;, 200 anos ap&oacute;s a Independ&ecirc;ncia, pode simplesmente consolidar uma d&eacute;cada de estagna&ccedil;&atilde;o e uma inflex&atilde;o no processo de desenvolvimento. O Brasil est&aacute; deixando de ser um pa&iacute;s emergente para se tornar uma na&ccedil;&atilde;o submergente. O desequil&iacute;brio acontece em termos econ&ocirc;mico, social e pol&iacute;tico.</p> <p> O indicador econ&ocirc;mico que sintetiza o retrocesso &eacute; o decl&iacute;nio da renda per capita. A renda m&eacute;dia da popula&ccedil;&atilde;o brasileira caiu quase 10% entre 2014 e 2016. E tudo indica que vai cair novamente em 2017. Ser&aacute; a primeira vez na hist&oacute;ria que haver&aacute; decl&iacute;nio quadrienal da renda per capita. Mas este desalento n&atilde;o &eacute; conjuntural. O Brasil tem perdido espa&ccedil;o na economia internacional desde 1985 e o atual clima de pessimismo j&aacute; prenuncia tempos amargos pela frente.</p> <p> Dos fundamentos da economia, nos &uacute;ltimos 30 anos, o Brasil tem aumentado o n&uacute;mero de pessoas na Popula&ccedil;&atilde;o Economicamente Ativa (PEA), tem aumentado o estoque de capital, tem aumentado os n&iacute;veis educacionais (capital humano) e tem aumentado a explora&ccedil;&atilde;o das terras e dos recursos naturais. Mas n&atilde;o tem aumentado a produtividade dos fatores de produ&ccedil;&atilde;o e nem tem protegido o meio ambiente.</p> <p> Na &eacute;poca da ditadura havia o lema de fazer o bolo crescer para depois distribuir. De fato, o bolo cresceu, mas a distribui&ccedil;&atilde;o n&atilde;o ocorreu. Na Nova Rep&uacute;blica se tentou distribuir a riqueza, fortalecendo as pol&iacute;ticas sociais, mas o bolo ficou encruado. Assim, torna-se imposs&iacute;vel distribuir aquilo que n&atilde;o foi produzido.</p> <p> O Brasil, nas &uacute;ltimas 3 d&eacute;cadas, passou por um processo de especializa&ccedil;&atilde;o regressiva, pois houve um significativo processo de desindustrializa&ccedil;&atilde;o precoce e de aumento da depend&ecirc;ncia da explora&ccedil;&atilde;o de produtos prim&aacute;rios e de commodities. Os baixos n&iacute;veis de poupan&ccedil;a e a financeiriza&ccedil;&atilde;o da economia sufocam o setor produtivo e mant&eacute;m baixas as taxas de investimento. A burocracia, a injusti&ccedil;a e a inefici&ecirc;ncia tribut&aacute;ria sufocam os neg&oacute;cios.</p> <p> Al&eacute;m disto, o Brasil passou de uma situa&ccedil;&atilde;o de descontrole inflacion&aacute;rio nas d&eacute;cadas de 1980 e 1990 para uma situa&ccedil;&atilde;o de descontrole da d&iacute;vida p&uacute;blica, atualmente. Os enormes d&eacute;ficits p&uacute;blicos (prim&aacute;rio e nominal) comprometem o desenvolvimento em n&iacute;vel federal, mas tamb&eacute;m estadual e municipal. A fal&ecirc;ncia do Rio de Janeiro &eacute; apenas a ponta do iceberg.</p> <p> Em 24 horas dois ex-governadores foram presos. A mediocridade do desempenho econ&ocirc;mico est&aacute; se generalizando e viralizando como uma doen&ccedil;a estrutural. O Brasil caminha para a doen&ccedil;a da estagna&ccedil;&atilde;o secular e do baixo crescimento, antes mesmo de garantir alguns direitos b&aacute;sicos.</p> <p> Em termos sociais, a pobreza voltou a subir e o mercado de trabalho entrou em colapso. Existem mais de 12 milh&otilde;es de pessoas procurando trabalho e mais de 23 milh&otilde;es de pessoas consideradas desocupadas ou desalentadas. Esse n&uacute;mero &eacute; maior do que toda a for&ccedil;a de trabalho da Espanha. Os jovens, que s&atilde;o considerados o futuro da na&ccedil;&atilde;o, s&atilde;o os mais afetados pelo desemprego e pela viol&ecirc;ncia, sendo as principais v&iacute;timas de homic&iacute;dios. Cerca de um quarto dos jovens de 15 a 29 anos n&atilde;o estudam e nem trabalham (gera&ccedil;&atilde;o nem-nem). A atual crise est&aacute; parindo uma gera&ccedil;&atilde;o perdida, desiludida e sem esperan&ccedil;a de um futuro promissor.</p> <p> A educa&ccedil;&atilde;o &ndash; que &eacute; uma vari&aacute;vel fundamental para o futuro de qualquer na&ccedil;&atilde;o &ndash; avan&ccedil;ou em termos quantitativos no Brasil, pois h&aacute; mais pessoas na escola e h&aacute; um aumento no n&uacute;mero m&eacute;dio de anos de estudo. Por&eacute;m, dados divulgados pelo Programa Internacional de Avalia&ccedil;&atilde;o de Estudantes (Pisa) mostram que quase metade dos estudantes brasileiros (44,1%) est&aacute; abaixo do n&iacute;vel de aprendizagem considerado adequado em leitura, matem&aacute;tica e ci&ecirc;ncias. Em matem&aacute;tica, 70,3% dos estudantes est&atilde;o abaixo do adequado, contra 0,13% no maior n&iacute;vel. O Brasil est&aacute; no grupo da lanterninha do ranking mundial da qualidade da educa&ccedil;&atilde;o.</p> <p> Ou seja, os jovens brasileiros sofrem com a falta de emprego, com a baixa qualidade da educa&ccedil;&atilde;o e com a viol&ecirc;ncia. Qual &eacute; o futuro que se espera para um pa&iacute;s que desperdi&ccedil;a o potencial de toda uma gera&ccedil;&atilde;o?</p> <p> Em termos pol&iacute;ticos, o Brasil vive o seu mais longo e profundo per&iacute;odo democr&aacute;tico. Nunca houve tantas elei&ccedil;&otilde;es, tantos eleitores, tantas agremia&ccedil;&otilde;es partid&aacute;rias e tanta liberdade de organiza&ccedil;&atilde;o e express&atilde;o. Como se costuma dizer: &ldquo;as institui&ccedil;&otilde;es est&atilde;o funcionando plenamente&rdquo;. Mas cresce a percep&ccedil;&atilde;o que o sistema funciona muito mal. Assim como a educa&ccedil;&atilde;o, houve melhora quantitativa, mas n&atilde;o houve melhora qualitativa da democracia.</p> <p> A insatisfa&ccedil;&atilde;o com a pol&iacute;tica brasileira &eacute; ampla, geral e irrestrita. A presidenta eleita, em 2014, foi &ldquo;impichada&rdquo;. O presidente da C&acirc;mara dos Deputados foi tamb&eacute;m &ldquo;impichado&rdquo; e preso. O presidente do Senado &ndash; que &eacute; r&eacute;u no Supremo Tribunal Federal &ndash; quase foi &ldquo;impichado&rdquo;, faltando praticamente 10 dias para o fim do seu mandato no comando da Casa.</p> <p> A desarmonia entre os Poderes atinge n&iacute;veis inimagin&aacute;veis. Um ministro do STF, em decis&atilde;o liminar monocr&aacute;tica, resolve afastar o presidente do Senado de seu cargo eletivo. A mesa do Senado decide n&atilde;o cumprir a ordem judicial. Outro ministro do STF disse que o tal ministro monocr&aacute;tico tomou uma medida &ldquo;indecente&rdquo; e sugeriu o impeachment do referido ministro. Em seguida, o pleno do STF volta atr&aacute;s e decide que o presidente do Senado poderia continuar no cargo, mas sem condi&ccedil;&otilde;es de assumir a Presid&ecirc;ncia da Rep&uacute;blica. O entrevero entre Renan Calheiros e o STF mais parece uma com&eacute;dia de trapalhadas. &Eacute; a casa da M&atilde;e Joana.</p> <p> Convenhamos, n&atilde;o &eacute; uma boa maneira de garantir a governabilidade da democracia. Nas &uacute;ltimas elei&ccedil;&otilde;es municipais os n&iacute;veis de absten&ccedil;&atilde;o, voto nulo e branco bateram todos os recordes. O novo Governo Federal, p&oacute;s-impeachment, perdeu 6 ministros em seis meses. Para agravar a situa&ccedil;&atilde;o atual, a opera&ccedil;&atilde;o Lava-Jato colocou parte do PIB brasileiro na pris&atilde;o. A &ldquo;dela&ccedil;&atilde;o do fim do mundo&rdquo;, ou dela&ccedil;&atilde;o premiada da Odebrecht &ndash; maior empreiteira do pa&iacute;s &ndash; vai tornar o ano de 2017 t&atilde;o inst&aacute;vel como 2016</p> <p> A dela&ccedil;&atilde;o dos 77 executivos da construtora Odebrecht, come&ccedil;ou com o depoimento de Cl&aacute;udio Melo Filho, diretor da Odebrecht em Bras&iacute;lia, que citou den&uacute;ncias que envolvem o presidente Michel Temer, os ministros Eliseu Padilha, Moreira Franco e o ex-ministro Geddel Vieira Lima. Tamb&eacute;m Rodrigo Maia, presidente da C&acirc;mara, Renan Calheiros, presidente do Senado e Romero Juc&aacute;, l&iacute;der do governo no Senado. E mais os senadores Agripino Maia, K&aacute;tia Abreu, ex-ministra da Agricultura do governo Dilma, Eun&iacute;cio Oliveira, previsto para suceder Renan na presid&ecirc;ncia do Senado. Entraram na linha de tiro, os senadores, do PT, Ti&atilde;o Viana e Lindberg Farias, os ex-ministros Ant&ocirc;nio Palocci e o ex-governador Jaques Wagner. A pedido de Dilma, Odebrecht pagou R$ 4 milh&otilde;es a Gleisi Hoffmann. Do PSDB, por enquanto, foram atingidos o ministro Jos&eacute; Serra, o senador A&eacute;cio Neves e o governador de S&atilde;o Paulo, Geraldo Alckmin. Lula e o filho dele, Lulinha, foram denunciados &agrave; Justi&ccedil;a pelo Minist&eacute;rio P&uacute;blico Federal, acusados de tr&aacute;fico de influ&ecirc;ncia, lavagem de dinheiro e organiza&ccedil;&atilde;o criminosa na Opera&ccedil;&atilde;o Zelotes.</p> <p> Faltam ainda 76 dela&ccedil;&otilde;es da Odebrecht. Haja f&ocirc;lego. Pode ser que o atual arranjo pol&iacute;tico do pa&iacute;s n&atilde;o sobreviva at&eacute; 2018 e a antecipa&ccedil;&atilde;o das elei&ccedil;&otilde;es gerais seja a &uacute;nica sa&iacute;da. O fato &eacute; que, pelo conjunto da obra, a democracia brasileira &eacute; cara, ineficiente e possui um grande d&eacute;ficit de legitimidade popular.</p> <p> Pesquisa Datafolha, publicada dia 11 de dezembro (mas realizada antes da divulga&ccedil;&atilde;o do depoimento do diretor da Odebrecht), mostra que a popularidade do presidente Michel Temer (PMDB) despencou: 51% dos brasileiros consideram a gest&atilde;o do peemedebista ruim ou p&eacute;ssima, ante 31%, em julho de 2016. A percep&ccedil;&atilde;o da popula&ccedil;&atilde;o sobre a economia se deteriorou. O &iacute;ndice de &oacute;timo/bom de Temer caiu de 14% em julho aos atuais 10%. A maioria da popula&ccedil;&atilde;o brasileira (63%) &eacute; favor&aacute;vel &agrave; ren&uacute;ncia do presidente Michel Temer, para que haja elei&ccedil;&atilde;o direta ainda em 2016. Vivemos um desastre autoinfligido.</p> <p> A crise pol&iacute;tica agrava a crise econ&ocirc;mica e ambas agravam a crise social. Existe uma entropia e dispers&atilde;o da energia do desenvolvimento. A arquitetura que sustenta a ideia de &ldquo;ordem e progresso&rdquo; &ndash; inscrita na bandeira nacional &ndash; est&aacute; desmoronando. A situa&ccedil;&atilde;o &eacute; temer&aacute;ria. O Brasil est&aacute; desperdi&ccedil;ando o seu melhor momento demogr&aacute;fico e a perda do b&ocirc;nus demogr&aacute;fico pode significar que o pa&iacute;s fique preso eternamente na &ldquo;armadilha da renda m&eacute;dia&rdquo;.</p> <p> Os positivistas que tiveram papel importante na Proclama&ccedil;&atilde;o da Rep&uacute;blica tinham como lema m&aacute;ximo: &ldquo;O Amor por princ&iacute;pio, a Ordem por base; o Progresso por fim&ldquo;. No quadro atual, o que tem prevalecido, na conjuntura nacional, &eacute; o &oacute;dio, a desordem e o regresso.</p> <p style="text-align: right;"> <strong><em>Jos&eacute; Eust&aacute;quio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, &eacute; Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em Popula&ccedil;&atilde;o, Territ&oacute;rio e Estat&iacute;sticas P&uacute;blicas da Escola Nacional de Ci&ecirc;ncias Estat&iacute;sticas &ndash; ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em car&aacute;ter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br</em></strong></p>

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