Bom Dia - O Diário do Médio Piracicaba

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26/05/2017 10h30

Adutora da Samarco pode prejudicar quatro rios e um lago

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<p> Defendendo o capital e deixando de lado a vida, prefeitos e deputados que participaram de audi&ecirc;ncia nesta ter&ccedil;a-feira (23) na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) para discutir as opera&ccedil;&otilde;es da mineradora Samarco defenderam a retomada das atividades da empresa. A redu&ccedil;&atilde;o na arrecada&ccedil;&atilde;o de impostos e o aumento do desemprego foram as duas principais raz&otilde;es apontadas para a defesa do retorno dos trabalhos da mineradora Samarco.</p> <p> Por&eacute;m, para que haja a libera&ccedil;&atilde;o, a prefeitura de Santa B&aacute;rbara quer que a Samarco recupere a Bacia do Peti, local que enfrenta degrada&ccedil;&atilde;o ambiental e que para tanto seria necess&aacute;rio a implanta&ccedil;&atilde;o de ETE&acute;s em Bar&atilde;o de Cocais e Santa B&aacute;rbara.</p> <p> <strong>Abuso da &aacute;gua</strong></p> <p> Apesar de ter sido respons&aacute;vel pelo maior desastre ambiental da hist&oacute;ria do Brasil, com um golpe de morte dado ao j&aacute; cambaleante Rio Doce &ndash; al&eacute;m de afetar outros 3 rios - a Samarco ir&aacute; retirar &aacute;gua de qualidade do rio Concei&ccedil;&atilde;o para continuidade de suas opera&ccedil;&otilde;es.</p> <p> Se dependesse dos que defendem o capital isso j&aacute; teria acontecido, n&atilde;o fosse o compromisso com a legisla&ccedil;&atilde;o e a vida do prefeito Leris Braga, da cidade de Santa B&aacute;rbara, que vem enfrentando uma luta desigual, defendendo uma solu&ccedil;&atilde;o que possa amenizar e atenuar os riscos de, mais uma vez, serem os rios v&iacute;timas da irresponsabilidade das empresas e dos &oacute;rg&atilde;os fiscalizadores.</p> <p> Segundo um engenheiro ambiental que preferiu n&atilde;o se identificar, j&aacute; que trabalha como terceirizado de uma mineradora, o impacto negativo do bombeamento desse volume de &aacute;gua do rio Concei&ccedil;&atilde;o &eacute; vis&iacute;vel aos olhos de qualquer leigo: &ldquo;N&atilde;o precisa de estudo para em um primeiro momento perceber que essa a&ccedil;&atilde;o cause impactos negativos &agrave; jusante &ndash; rio abaixo - da capta&ccedil;&atilde;o. N&atilde;o estamos falando de pouca &aacute;gua, estamos falando de 2.048 m3 de &aacute;gua por hora, estamos falando de mais de 50 milh&otilde;es de litros por dia. Esse volume, em apenas 3 dias de bombeamento, daria para abastecer toda popula&ccedil;&atilde;o de Santa B&aacute;rbara por um m&ecirc;s&rdquo;, revela o engenheiro.</p> <p> Ainda segundo o profissional, o impacto percept&iacute;vel sem estudo &eacute; o fato da &aacute;gua &ldquo;boa&rdquo; do rio Concei&ccedil;&atilde;o contribuir para o equil&iacute;brio da qualidade das &aacute;guas quando esse recebe o Rio S&atilde;o Jo&atilde;o em Barra Feliz: &ldquo;As &aacute;guas do Concei&ccedil;&atilde;o a partir de Brumal mant&ecirc;m uma boa qualidade, mas quando recebe o S&atilde;o Jo&atilde;o, este j&aacute; vem comprometido com esgoto dom&eacute;stico entre outros agentes poluidores e juntos formam o rio Santa B&aacute;rbara. Da&iacute; pra frente o Santa B&aacute;rbara recebe todo esgoto de Barra Feliz e de Santa B&aacute;rbara, desaguando no lago de Peti, passando por S&atilde;o Gon&ccedil;alo e posteriormente desaguando no Piracicaba em Capela Branca, comunidade de Bela Vista de Minas&rdquo;, explica.</p> <p> &ldquo;Imaginem retirar esse volume consider&aacute;vel de &aacute;gua, justamente a que contribui para manter a vida dessas unidades h&iacute;dricas a jusante. Imaginem esse bombeamento no per&iacute;odo de seca quando o volume naturalmente reduz em torno de uns 40%, isso afetaria n&atilde;o s&oacute; o rio Santa B&aacute;rbara, mas seria uma cadeia de impactos, aumentando a contamina&ccedil;&atilde;o do lago de Peti, do Piracicaba e ao j&aacute; moribundo Rio Doce&rdquo;, pondera o engenheiro.</p> <p> O experiente engenheiro sanitarista Jorge Borges tamb&eacute;m compartilha desse racioc&iacute;nio. Jorge Borges &eacute; membro da dire&ccedil;&atilde;o do CBH Piracicaba, e durante audi&ecirc;ncias p&uacute;blicas em Brumal, na ocasi&atilde;o do primeiro licenciamento questionou: &ldquo;Como ficar&aacute; o distrito de Barra Feliz depois de retirada de cerca de 50 milh&otilde;es de litros de &aacute;gua por dia do rio Concei&ccedil;&atilde;o? Como ficar&aacute; o esgoto dom&eacute;stico de Santa B&aacute;rbara? Como ficar&aacute; a bela represa do Peti? Como ficar&aacute; o sistema h&iacute;drico da bacia do rio Piracicaba j&aacute; que esta &aacute;gua n&atilde;o retornar&aacute;?&rdquo;, criticou na &eacute;poca.</p> <p> <strong>Situa&ccedil;&atilde;o cr&iacute;tica de Peti</strong></p> <p> A Represa do Peti, &aacute;rea de preserva&ccedil;&atilde;o ambiental e reserva ecol&oacute;gica, tem um espelho d&rsquo;&aacute;gua com 708 hectares e uma Esta&ccedil;&atilde;o Ambiental, inaugurada em 1983 com 603 hectares.</p> <p> &nbsp;A &aacute;rea onde est&aacute; instalada &eacute; uma transi&ccedil;&atilde;o da mata atl&acirc;ntica com serrado.</p> <p> O impacto da retirada do volume d&acute;&aacute;gua do rio Concei&ccedil;&atilde;o pela Samarco durante o per&iacute;odo que antecedeu ao desastre causado por ela com o rompimento da barragem de Fund&atilde;o, em Mariana, foi not&oacute;rio para os moradores ribeirinhos e sitiantes da represa.</p> <p> A represa, que a cada dia vem sofrendo com a redu&ccedil;&atilde;o no seu volume de &aacute;gua, viu o problema intensificado durante o per&iacute;odo de bombeamento.</p> <p> Moradores relataram uma queda brusca no volume de &aacute;gua bem como um aumento da turbidez da &aacute;gua e tamb&eacute;m do mau cheiro causado pelo esgoto, sem contar a mortandade de peixes que ocorreu em diversas situa&ccedil;&otilde;es que n&atilde;o ficaram esclarecidas.</p> <p> &ldquo;J&aacute; estamos com pouca chuva, quando entra o inverno ai diminui mais ainda e a represa baixa muito. Quando a Samarco come&ccedil;ou a bombear &aacute;gua do rio Concei&ccedil;&atilde;o a&iacute; a coisa piorou e muito, principalmente no per&iacute;odo de seca, estava um fedor insuport&aacute;vel em determinados dias&rdquo;, denunciou um morador que preferiu n&atilde;o se identificar temendo repres&aacute;lias.</p> <p> Vale lembrar aqui, os resultados da pesquisa interdisciplinar realizada pela UFMG, no per&iacute;odo 1993-1997, na bacia do Rio Piracicaba, intitulada <strong>&ldquo;Biodiversidade, Popula&ccedil;&atilde;o e Economia</strong>&rdquo;. Segundo o consultor ambiental Cl&aacute;udio Guerra, que foi um dos coordenadores dessa pesquisa, que foi publicada em livro de mesmo nome, os resultados s&atilde;o preocupantes, pois as an&aacute;lises mostraram que em amostras do sedimento (fundo) dos rios S&atilde;o Jo&atilde;o, Santa B&aacute;rbara e Piracicaba as concentra&ccedil;&otilde;es de metais pesados como <strong>Hg, Cd, Cr, Zn</strong> est&atilde;o acima do limite aceit&aacute;vel. Em amostras de peixes, a concentra&ccedil;&atilde;o de merc&uacute;rio acumulado na carne dos mesmos est&aacute; acima do limite aceit&aacute;vel, especialmente naquelas coletadas no Reservat&oacute;rio de Pet&iacute;. Esta forma de polui&ccedil;&atilde;o aqu&aacute;tica &eacute; preocupante pelo fato dos metais pesados n&atilde;o serem degrad&aacute;veis, acumularem-se nos organismos vivos, por d&eacute;cadas, e penetrarem na cadeia alimentar, podendo assim atingir o homem. Al&eacute;m disso, eles s&atilde;o t&oacute;xicos e podem tamb&eacute;m dizimar a biota, isto &eacute;, o conjunto de organismos vivos de um determinado ecossistema.</p> <p> <strong>Press&atilde;o</strong></p> <p> O prefeito de Santa B&aacute;rbara vem recebendo press&atilde;o do capital &ndash; atrav&eacute;s de investidas do prefeito de Mariana e de Anchieta, no Esp&iacute;rito Santo, que ap&oacute;s a paraliza&ccedil;&atilde;o da Samarco tiveram a arrecada&ccedil;&atilde;o de seus munic&iacute;pios reduzida consideravelmente.</p> <p> Alguns deputados estaduais de Minas e do Esp&iacute;rito Santo e o pr&oacute;prio governo mineiro tamb&eacute;m vem pressionando para que a mineradora retorne suas atividades de olho na arrecada&ccedil;&atilde;o de impostos &ndash; deixando a quest&atilde;o ambiental e a vida de lado.</p> <p> Entretanto, a maior press&atilde;o tem sido observada na atitude da grande m&iacute;dia que, atendendo ao poder do capital da mineradora e suas detentoras &ndash; Vale e BHP Billiton, desconhece e desconsidera a situa&ccedil;&atilde;o local, onde Santa B&aacute;rbara e in&uacute;meros outros munic&iacute;pios atingidos pela atividade da Samarco n&atilde;o recebem nenhuma contra partida da mineradora.</p> <p> Mat&eacute;rias e mais mat&eacute;rias, na tentativa de manipular a opini&atilde;o p&uacute;blica, vem sendo veiculadas nos grandes meios de comunica&ccedil;&atilde;o colocando o prefeito de Santa B&aacute;rbara como empecilho ao retorno das atividades da mineradora ao n&atilde;o conceder licen&ccedil;a para a mesma bombear &aacute;gua do rio Concei&ccedil;&atilde;o.</p> <p> As mat&eacute;rias desconsideram as condi&ccedil;&otilde;es da regi&atilde;o, os impactos causados pela a&ccedil;&atilde;o de retirar &aacute;gua da bacia hidrogr&aacute;fica do Piracicaba entre outros fatores que envolvem a sobreviv&ecirc;ncia das comunidades aqu&aacute;ticas e o equil&iacute;brio ambiental local e regional.</p> <p> <strong>Resist&ecirc;ncia</strong></p> <p> Atento &agrave;s consequ&ecirc;ncias negativas o prefeito de Santa B&aacute;rbara vem resistindo, amparado pela opini&atilde;o p&uacute;blica dos santa barbarenses e das comunidades locais envolvidas e ref&eacute;ns da atividade mineradora.</p> <p> <strong>A adutora</strong></p> <p> Em 2009 a Samarco iniciou a constru&ccedil;&atilde;o da adutora no distrito de Brumal e, quatro anos depois, o mineroduto de 40 quil&ocirc;metros de extens&atilde;o foi &nbsp;conclu&iacute;do e passou a captar 2.048 m3 de &aacute;gua por hora. A a&ccedil;&atilde;o durou at&eacute; 2015, quando os trabalhos no local foram interrompidos com o rompimento da barragem de Fund&atilde;o, em Mariana. Por conta dos desastres, os licenciamentos da Samarco foram suspensos pela Semad e no momento passam por reavalia&ccedil;&atilde;o.</p>

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