31/01/2017 09h34
UMA PERERECA APAIXONADA
UMA PERERECA APAIXONADA
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Enquanto isso naquele boteco, dois frequentadores comentavam sobre o carnaval...</p>
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- Que saudades dos antigos carnavais. Naquele tempo é que era bom</p>
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- Ah. Não sei não. Acho que hoje o pessoal tá mais evoluído</p>
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- Mas que evoluído. Já viu essas músicas que eles tocam hoje em dia? Não tem letra, não tem poesia.</p>
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- Ah... antigamente também tinha aquelas da cueca pra fazer pano de prato. Quer mais nojento?</p>
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- Ah... mas pelo menos antigamente você ouvia uma marcha rancho... não falava de amor... hoje só tem sacanagem.</p>
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- Mas naquele tempo também tinha sacanagem, sô. Tanto que 9 meses depois nascia muita gente...</p>
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- Mas havia mais respeito... você não via as mulheres seminuas rebolando nas ruas mostrando tudo.</p>
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- Mas nem por isso se transava menos. Quando dois querem dão um jeito, sô.</p>
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- Ah não! Você está liberal demais. Só falta dizer que gosta desses funks . Tem esses sertanejos também. Deviam proibir de tocar essas coisas...</p>
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- Tem até cidades que estão proibindo funk e axé. Só toca as marchinhas de antigamente. Eu acho um porre.</p>
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- Um porre por quê?</p>
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- Ah... fica um carnaval de velhos, o bloco da geriatria. Tem de renovar mesmo. É a roda da vida girando...</p>
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- Eu, por mim, mandava prender quem tocasse essas bandalheiras. É demais para as famílias. Agora você vê bem. Esse ano tem um funk que tá falando uma besteira que eu tenho até vergonha de falar.</p>
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- Eu já sei. Aquela do “o pai te ama né”?</p>
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- Pai é o que você está dizendo... você sabe do que estou falando.</p>
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- Caretice sua. É até romântica a letra. Quando o sujeito diz “te ama” está chegando ao ápice do romantismo. É uma linda declaração de amor.</p>
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- Quem nem o Lepolepo né? Cada ano uma pior que a outra. E pior é que tem gente para apoiar como você...</p>
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- Mas eu amo o Carnaval. Aceite que dói menos. O carnaval é a festa da carne, da brincadeira, da sátira, do beijo na boca, da sacanagem, do desbunde, da cultura, um grande teatro popular onde todos atuam. Não cabe moralismo. </p>
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- Eu acho que você tá liberal demais. Tô te estranhando. Até parece que virou...</p>
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- Virei o que?</p>
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- Você sabe!</p>
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- E se eu virar? Você deixa de ser meu amigo?</p>
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- Deixar de ser não... mas vou passar a olhar diferente você.</p>
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- Não sei não, viu amigo. Essa caretice toda é que me parece algo reprimido.</p>
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- Que isso, sô...</p>
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- Então vamos sair fantasiados de mulher no carnaval. Depois de umas e outras na cabeça quero ver se essa macheza sobrevive.</p>
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- Cruz credo. Nem morta...quer dizer, nem morto.</p>
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- Aháá... ato falho hein?</p>
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- Você não vai me convencer. O carnaval de antigamente é que era bom e ponto final</p>
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- Bom, eu prefiro as reticências. Antigamente não tinha internet, as músicas eram muito caretas, as mulheres muito vestidas, os homens eram uns capiaus e era tudo muito proibido.</p>
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- Proibido? O lança-perfume por exemplo era liberado. Depois é que resolveram proibir tudo e o mundo encaretou. </p>
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- É. Nisso você tem razão. Mas aqui... para você não ficar triste, acaba de sair a resposta praquela música “o pai te ama”. Chama-se “uma perereca apaixonada”. O amor é lindo...</p>