29/01/2016 08h47
Instituto Mineiro de Per?cias considera preocupante a situa??o da barragem da Samarco
<p>
Menos de três meses após o maior desastre socioambiental do Brasil, uma movimentação de rejeitos na Barragem do Fundão, da mineradora Samarco (controlada pela Vale e BHP Billiton), obrigou a empresa a retirar os trabalhadores que atuavam no reforço das barragens do complexo minerário de Mariana, na Região Central de Minas, e a acionar o alerta amarelo, o que assustou a população local.</p>
<p>
A mina da Samarco tem três barragens: Germano, a maior delas; Santarém, que armazena água; e Fundão (com rejeitos de mineração da Samarco e da Vale), que rompeu em 5 de novembro provocando a morte de 17 pessoas e deixando outras duas desaparecidas, além de arrasar comunidades e gerar estragos em toda a Bacia do Rio Doce.</p>
<p>
A Defesa Civil de Mariana foi avisada do deslocamento pela empresa na tarde de ontem. De acordo com o chefe do órgão, Welbert Stopa, não houve vítimas. “Houve um deslocamento de massa. Foi material acumulado que vazou”, afirmou Stopa. Ele detalhou que esses materiais acumulados são sedimentos do vazamento de novembro e que foi adotado o alerta amarelo, em uma escala de risco que ainda tem o verde (sem perigo) e vermelho (rompimento iminente).</p>
<p>
Boletim da Samarco enviado ao Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) indicava a presença de 150 trabalhadores nas obras no local. A Barragem de Santarém está sendo reforçada e, segundo relatório do DNPM falta um percentual de 11,9% para a conclusão. O coeficiente de segurança da barragem era de 1,37. O recomendado pela norma de segurança NBR 13.028 é acima de 1,5.</p>
<p>
O engenheiro Gerson Campera, consultor em barragens do Instituto Mineiro de Perícias, considera a situação preocupante. “Toda vez que há passagem de material, a lama leva tudo que está ao lado. Pode virar uma segunda ruptura no serviço de reforço do barramento”, avalia. O tenente do Corpo de Bombeiros Leonard Farah, um dos coordenadores da operação de resgate nas áreas atingidas, afirma que a corporação não foi acionada.</p>
<p>
<strong>Palavra de especialista</strong></p>
<p>
"A situação é preocupante"</p>
<p>
“Como ainda há um volume considerável de rejeitos contido na Barragem do Fundão, há risco de uma nova tragédia ocorrer, embora não sob a perspectiva de perda de vidas, porque eles (a Samarco e autoridades) estão sob alerta. Mas a situação é preocupante, porque a área ainda está em obras e um vazamento pode provocar forte impacto ambiental. Outra ameaça é a Barragem de Santarém, que é de água e também está sendo recuperada. O trabalho tem que ser constante em todas as áreas, quanto mais porque houve uma ruptura de grande porte. Espero que esse estado de alerta possa prevenir com relação à perda de vidas humanas, o que não houve no acidente de novembro. Se o restante do rejeito de Fundão vazar, a lama fará o mesmo caminho e a qualidade da água da Bacia do Rio Doce ficará ainda mais comprometida.”</p>
<p>
<strong>95% da lama permanece em barragem e risco de novo vazamento não é descartado</strong></p>
<p>
O deslizamento da barragem Fundão, em Mariana, região Central de Minas, foi de cerca de um milhão de metros cúbicos de sedimentos, segundo o superintendente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Marcelo Belisário. "Entendemos que o movimento de rompimento não cessou. Existe um remanescente considerável de 20 milhões de metros cúbicos dentro da barragem de fundão", explicou. Belisário destacou que o volume de rejeito pode ser carregado para o Rio doce por causa das chuvas.</p>
<p>
Ele disse, ainda, que as medidas adotadas pela Samarco, como o reforço em diques, são importantes, mas não são suficientes para dar conta dos rejeitos que permanecem em Santarém e Fundão. Coordenador de engenharia da Samarco, Jorge Bernardo Vasconcelos, disse a massa deslocada ficou parada em um ponto do reservatório de Santarém.</p>
<p>
Para o procurador da república de Minas Gerais, Edmundo Antônio Dias o acidente não pode ser considerado de pequenas proporções "demonstra a precariedade das estruturas das barragens existentes"</p>
<p>
<strong>Plano de emergência</strong></p>
<p>
Um plano de emergência deveria ser apresentado em novembro pela empresa, mas de acordo com o promotor Daniel Oliveira, o documento foi entregue parcialmente. "A empresa deveria apresentar o 'Dam Break' , que é uma projeção dos cenários no caso de rompimento dessas barragens ou estruturas remanescentes e apresentar medidas mitigadoras emergenciais. É isso não foi feito dentro do prazo"</p>
<p>
Moradores de Bento Rodrigues, distrito que foi devastado pelo tsunami de lama, acompanham a reunião da comissão de barragens, que ocorre na Assembleia Lesgislativa de Minas Gerais (ALMG). Eles reinvindicam a permanência do processo judicial em Mariana. "Viemos pressionar porque se for para Brasília vai demorar", acredita a estudante Samara Quintão, de 21 anos, que mora em uma casa alugada pela Samarco em Mariana.</p>
<p>
O promotor Guilherme Meneghin disse que a transferência pode inviabilizar muitos acordos em andamento. "Tudo isso pode ser inviabilizado se for estabelecida a competência da Justiça Federal, se a União for assumir". Segundo ele, a decisão caberá ao Supremo Tribunal Federal (STF), mas a Samarco pode solicitar a permanência do processo na cidade mineira.</p>
<p>
Uma audiência marcada para o dia 22 de fevereiro deverá tratar do assunto.</p>
<p align="right">
<em>Fonte: EM</em></p>