01/12/2015 13h53
Sessenta quil?metros de destrui??o
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No último sábado, 28, o jornal Bom Diaacompanhou os presidentes dos Comitês das Bacias Hidrográficas do rio Piranga, Carlos Eduardo Silva e do Piracicaba, vice prefeito de Nova Era, Flamínio Guerra, em uma expedição partindo do nascedouro do Rio Doce, subindo até a foz do Piranga e do Rio do Carmo, que foram vítimas do desastre da barragem da Samarco / Vale / BHP Billiton.</p>
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O ponto de partida foi a ponte do Rio Doce, na cidade homônima ao rio, e que fazia a travessia do lago formado pela Barragem Risoleta Neves, conhecida como Candonga.</p>
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No local, durante os cerca de 30 minutos que a reportagem permaneceu, dezenas de pessoas, transeuntes, paravam para, incrédulos, observarem o resultado da irresponsabilidade dos dirigentes e operadores da Samarco / Vale / BHP Billiton.</p>
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O lago que foi esvaziado para limpeza se apresenta totalmente assoreado pelo rejeito de minério e de entulhos que foram levados até ali pelo tsunami de lama da barragem rompida em Bento Rodrigues, Mariana.</p>
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Algumas poucas máquinas estavam estacionadas às margens do rio, mas não trabalhavam no momento. Próximo ao local, um grande depósito de entulho e rejeito retirado do leito do rio está sendo formado – não se sabendo ainda o destino final desse material.</p>
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<strong>Rio Doce</strong></p>
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Por ironia do destino, após passar pela imagem da destruição, um portal na entrada da cidade de Rio Doce, dando boas vindas aos visitantes, trazia os dizeres: “Bem vindo à doce terra, Rio Doce”.</p>
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No local os presidentes das CBH´s encontraram com o prefeito Silvério Joaquim Aparecido da Luz, 35, quando colocaram a par as ações que as diversas frentes estão tomando.</p>
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Durante o encontro, o prefeito criticou a lentidão das ações das empresas envolvidas visando solucionar inúmeros problemas vividos pelos moradores das cidades atingidas, principalmente aqueles mais simples e humildes que não sabem onde recorrer.</p>
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Os presidentes das CBH´s, Carlos Eduardo e Flamínio guerra se colocaram à disposição do prefeito para apoiá-lo em suas ações e demandas.</p>
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<strong>Subindo o rio</strong></p>
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Continuando a expedição, subindo o Piranga até a foz do Rio Do Carmo, foram feitos vários contatos com moradores e produtores rurais atingidos pela tragédia.</p>
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Um misto de desolação, incredibilidade e profunda tristeza eram visíveis em cada rosto.</p>
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Sem saber onde e como recorrer, alguns ainda tentavam recuperar, com esforço, o solo atingido.</p>
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Logo após o encontro do Rio do Carmo com o Piranga, um projeto de recuperação da mata ciliar, promovida pelo CBH Piranga, foi todo destruído.</p>
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Segundo Carlos Eduardo, milhares de mudas plantadas não existem mais.</p>
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<strong>Fazenda Porto Alegre</strong></p>
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Na Fazenda Porto Alegre os proprietários João Carneiro, 85 e seu filho, João Lúcio Barreto Carneiro, 48, miravam perplexo o resultado da tragédia.</p>
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João Carneiro, com a voz embargada, informou que era a primeira vez que estava visitando a fazenda após a tragédia: “Nasci e me criei aqui. Não vou ver isso como era antes novamente. Não volto aqui mais”, desabafou com os olhos cheios d´água.</p>
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A Fazenda Porto Alegre, matriz dos Laticínios Porto Alegre, teve mais de 9 hectares de plantação de milho forrageiro encobertos pela lama de rejeito de minério. No total, a fazenda conta com 10 km de área atingida, já que é essa a extensão que divide a propriedade com o rio.</p>
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O curral também foi totalmente tomado, tendo os vaqueiros obrigados a conduzir o gado leiteiro a outro curral, que não estava preparado para receber o número de animais, conforme nos informou o diretor da empresa, João Lúcio.</p>
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Ele informou que até o momento, 23 dias após o desastre, a Samarco não havia se manifestado, e todos os procedimentos para alimentação e trato do gado bem como limpeza da área, estava sendo feitos pela própria fazenda: “Toda essa área de milho atingida era para trato do gado e diante da perda tivemos que providenciar a compra de forragem para suprir essa necessidade”, disse.</p>
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Ainda segundo João Lúcio apenas um caminhão pipa havia sido destacado para abastecer os currais de água, mesmo assim somente naqueles últimos dias.</p>
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Ele disse ainda que aguardava as providências que a prefeitura estaria tomando em relação aos prejuízos causados pela empresa Samarco no município.</p>
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<strong>Barra Longa</strong></p>
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Continuando subindo o Rio do Carmo, chegando à cidade de Barra Longa, a destruição era uma só. Metros de lama exposta às margens do curso d ´água mostrava o tamanho da irresponsabilidade da empresa.</p>
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A cidade, totalmente abalada com o ocorrido, respirava a poeira daquela lama que ocupou todas as ruas, praças, casas, comércio, plantações e quintais.</p>
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Caminhões e máquinas que trabalham na limpeza das partes mais atingidas eram os únicos movimentos da cidade, que segundo moradores, teve sua vida cotidiana dilacerada.</p>
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A praça principal, orgulho da cidade não existe mais, apenas uma praça de lama seca, fétida, que insiste em permanecer, apesar do trabalho constante dos equipamentos.</p>
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Todo rejeito de minério retirado da cidade está sendo depositado em um terreno dentro da cidade, mas ainda sem destino certo, fato que chamou atenção da Promotoria do Meio Ambiente do Estado, que exige que esse material seja realocado para local apropriado.</p>
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Na entrada da cidade, ponto final da expedição dos Comitês do Piranga e do Piracicaba, outra ironia. Um portal, de boas vindas à cidade, um totem da Estrada Real, com uma mensagem da Fiemg: “Gestão eficiente dos recursos hídricos. A indústria Mineira fazendo sua parte pela água”.</p>
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<strong>Balanço</strong></p>
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Os presidentes dos Comitês, após percorrer esse pequeno trecho atingido, se mostraram preocupados com o futuro da região.</p>
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Para Carlos Eduardo somente com muito esforço e união do MPE e das entidades civis organizadas, poderá se chegar a um mínimo de redução desse impacto.</p>
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Já para Flamínio as cobranças não podem parar: "A hora é de toda a sociedade cobrar as responsabilidades e a execução de ações que minimizam os impactos trazidos pelo acidente. E que esta tragédia seja encarada como um divisor de águas. A atividade mineraria causadora de grandes impactos ambientais, precisa neste momento de uma legislação mais rigorosa na gestão ambiental e que seja efetivamente fiscalizada pelos órgãos governamentais, trazendo assim segurança a toda a sociedade." </p>
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Confiora todas imagens no http://www.bomdiaonline.com/galeria/376/expediccedilatildeo-ao-rio-doce</p>