Bom Dia - O Diário do Médio Piracicaba

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23/11/2015 07h41

"Impacto de lama no mar seria como dizimar o Pantanal", diz bi?logo

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<p> A chegada da onda de lama, resultado do rompimento de uma barragem em Mariana (MG) h&aacute; duas semanas, ao Oceano Atl&acirc;ntico &acirc;&rdquo;&euro; prevista para ocorrer neste domingo 22 &acirc;&rdquo;&euro; teria um impacto ambiental equivalente &agrave; contamina&ccedil;&atilde;o de uma floresta tropical do tamanho do Pantanal brasileiro.</p> <p> A afirma&ccedil;&atilde;o &eacute; do bi&oacute;logo Andr&eacute; Ruschi, diretor da escola Esta&ccedil;&atilde;o Biologia Marinha Augusto Ruschi, em Aracruz, Santa Cruz, no Esp&iacute;rito Santo.</p> <p> De acordo com Ruschi, os 62 bilh&otilde;es de litros de rejeitos do beneficiamento do min&eacute;rio de ferro &acirc;&rdquo;&euro; o equivalente a 25 mil piscinas ol&iacute;mpicas &acirc;&rdquo;&euro; despejados ao longo de 500 km da bacia do rio Doce atingiriam cerca de 10 mil km&sup2; numa regi&atilde;o conhecida como Giro de Vit&oacute;ria, importante celeiro de nutrientes para animais marinhos, como a tartaruga-de-couro (amea&ccedil;ada de extin&ccedil;&atilde;o), o golfinho pontoporia e as baleias jubartes.</p> <p> Com a chegada dessa onda ao mar isso pode se tornar um desastre de propor&ccedil;&otilde;es mundiais, com consequ&ecirc;ncias dif&iacute;ceis de imaginar. &Eacute; um risco que n&atilde;o poder&iacute;amos correr. E o pre&ccedil;o que pagaremos por ele ser&aacute; enorme</p> <p> Ele estima que a descarga t&oacute;xica contaminaria principalmente tr&ecirc;s Unidades de Conserva&ccedil;&atilde;o marinhas &acirc;&rdquo;&euro; Comboios, Costa das Algas e Santa Cruz, que juntas somam 200.000 hectares (2.000 km&sup2;) no oceano.</p> <p> Ruschi lembra, contudo, que como o ecossistema marinho &eacute; mais vulner&aacute;vel do que o terrestre, o impacto no mar seria proporcional &agrave; contamina&ccedil;&atilde;o de uma &aacute;rea continental dez vezes maior &acirc;&rdquo;&euro; ou 20.000.000 hectares (200.000 km&sup2;) &acirc;&rdquo;&euro; de floresta tropical prim&aacute;ria.</p> <p> &quot;Seria como dizimar, de uma s&oacute; vez, todo o Pantanal&quot;, afirma Ruschi &agrave; BBC Brasil. O Pantanal se estende por 250.000 km&sup2; pelo Brasil, Bol&iacute;via e Paraguai.</p> <p> &quot;O ecossistema marinho &eacute; muito mais eficiente na bioss&iacute;ntese do que o terrestre. Cerca de dois ter&ccedil;os de toda a biomassa do planeta &eacute; produzida em apenas 5% ou 6% dos oceanos. Trata-se da borda dos continentes ou de regi&otilde;es com menos de 200 metros de profundidade, onde as algas podem receber luz e fazer fotoss&iacute;ntese&quot;, explica.</p> <p> Ruschi acredita que, se nada for feito, o preju&iacute;zo ambiental do &#39;tsunami marrom&#39; pode demorar 100 anos para ser revertido.</p> <p> &quot;O fluxo de nutrientes de toda a cadeia alimentar de 1/3 da regi&atilde;o sudeste e o eixo de 1/2 do Oceano Atl&acirc;ntico Sul est&aacute; comprometido e pouco funcional por no m&iacute;nimo 100 anos&quot;, afirma.</p> <p> <strong>&#39;Desastre ambiental&#39;</strong></p> <p> H&aacute; cerca de duas semanas, toneladas de lama vazaram no rompimento de uma barragem da empresa Samarco em Mariana (MG), no maior desastre ambiental da ind&uacute;stria da minera&ccedil;&atilde;o brasileira.</p> <p> A Samarco, fruto da sociedade entre a brasileira Vale e a anglo-australiana BHP Billiton, &eacute; respons&aacute;vel pela explora&ccedil;&atilde;o de min&eacute;rio de ferro no munic&iacute;pio.</p> <p> At&eacute; agora, o &#39;tsunami marrom&#39; destruiu vilarejos, como o distrito de Bento Rodrigues, deixando pelo menos 11 mortos &acirc;&rdquo;&euro; sendo sete j&aacute; identificados &acirc;&rdquo;&euro; e 12 desaparecidos. N&uacute;meros s&atilde;o questionados.</p> <p> Na quinta-feira 19, a onda de lama chegou &agrave; cidade de Colatina, no Esp&iacute;rito Santo, distante 400 km de Mariana. O abastecimento foi interrompido e os moradores est&atilde;o recebendo &aacute;gua em caminh&otilde;es-pipa.</p> <p> A previs&atilde;o, segundo o Servi&ccedil;o Geol&oacute;gico do Brasil (CPRM), que monitora a evolu&ccedil;&atilde;o da mancha de lama, &eacute; de que o contato do material contaminado com o mar, no litoral do Estado, ocorresse no domingo, 22.</p> <p> O Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renov&aacute;veis) confirmou o progn&oacute;stico &agrave; BBC Brasil. Inicialmente, o &oacute;rg&atilde;o havia previsto que a lama contaminada atingiria o mar na sexta-feira.</p> <p> <strong>Biodiversidade amea&ccedil;ada</strong></p> <p> Ruschi prev&ecirc; que a lama poderia ser levada para uma &aacute;rea maior do que o Giro de Vit&oacute;ria, afetando o banco de Abrolhos (em cujo extremo norte se localiza o arquip&eacute;lago de mesmo nome) e a Cordilheira submarina, uma cadeia de montanhas submersas originadas do afastamento das placas tect&ocirc;nicas.</p> <p> &quot;&Eacute; este Giro de Vit&oacute;ria (&aacute;rea de ressurg&ecirc;ncia de nutrientes) que nutre toda a regi&atilde;o (cordilheira Vit&oacute;ria Trindade e banco de Abrolhos) por efeito das varia&ccedil;&otilde;es estacionais e clim&aacute;ticas que influenciam essa dispers&atilde;o&quot;, explica.</p> <p> Segundo o bi&oacute;logo, a longo prazo, os efeitos ambientais poderiam ser sentidos em at&eacute; 20 milh&otilde;es de km&sup2; no oceano, o equivalente a cinco vezes o tamanho da Floresta Amaz&ocirc;nica.</p> <p> &quot;A lama que chega carregada pelas correntes vai se depositar inicialmente numa &aacute;rea menor, mas como o tempo &acirc;&rdquo;&euro; devido a chuvas, por exemplo &acirc;&rdquo;&euro; pode afetar &aacute;reas maiores&quot;, explica Ruschi.</p> <p> &quot;Estamos falando do eixo de funcionamento de todo o Atl&acirc;ntico Sul. Essa &eacute; a regi&atilde;o de maior biodiversidade marinha do mundo. &Eacute; um sistema especial, &uacute;nico, importante e fundamental&quot;, acrescenta ele.</p> <p> Ruschi ressalva, por&eacute;m, que a contamina&ccedil;&atilde;o n&atilde;o se daria de forma imediata.</p> <p> &quot;Isso depende da caracateriza&ccedil;&atilde;o qu&iacute;mica desses res&iacute;duos industriais minerais e de outros poluentes que essa lama vem trazendo na calha do rio Doce&quot;, diz ele.</p> <p> Na quinta-feira, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, afirmou que a mancha de lama proveniente do rompimento da barragem em Mariana deve se espalhar por uma extens&atilde;o de 9 km quando chegar ao mar. A estimativa foi baseada em um estudo feito pelo grupo de pesquisa do ocean&oacute;grafo Paulo Rosman, da UFRJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).</p> <p> Teixeira descartou qualquer impacto ambiental no arquip&eacute;lago de Abrolhos (250 km ao norte da foz do rio Doce) e nos manguezais da regi&atilde;o de Vit&oacute;ria (120 km ao sul).</p> <p> Segundo a ministra, foi conclu&iacute;da a escava&ccedil;&atilde;o de um canal na regi&atilde;o para tentar desviar a lama da &aacute;rea de desova de tartarugas de couro, esp&eacute;cie amea&ccedil;ada. Desde o &uacute;ltimo s&aacute;bado, funcion&aacute;rios do projeto Tamar v&ecirc;m recolhendo ovos de tartaruga-de-couro na regi&atilde;o.</p> <p> O rejeito de minera&ccedil;&atilde;o de ferro &eacute; composto por terra, areia, &aacute;gua e res&iacute;duos de ferro, alum&iacute;nio e mangan&ecirc;s. Ainda n&atilde;o se sabe se a composi&ccedil;&atilde;o &eacute; t&oacute;xica para humanos, mas, de acordo com especialistas, ela funcionaria como uma &quot;esponja&quot;, absorvendo outros poluentes para dentro do rio.</p> <p> <strong>Segundo Ruschi, descarga t&oacute;xica poderia provocar aumento na temperatura da Terra</strong></p> <p> Ruschi tamb&eacute;m diz que a chegada da lama ao mar poderia, em &uacute;ltima inst&acirc;ncia, elevar a temperatura da Terra.</p> <p> Isso porque, segundo ele, a foz do rio Doce concentra 83% das algas calc&aacute;rias da costa brasileira, um dos principais &#39;fixadores&#39; de g&aacute;s carb&ocirc;nico da atmosfera.</p> <p> &quot;Como os sedimentos tendem a cobrir as algas, impedindo a luz e a troca de gases, esses animais tendem a desaparecer da &aacute;rea. Quanto mais ampla for a dispers&atilde;o, maior o impacto, pois pelas correntes tudo vai acabar na regi&atilde;o da Cordilheiras e do banco de Abrolhos&quot;, explica.</p> <p> &quot;Quando n&atilde;o existia esse banco de algas, h&aacute; 100 milh&otilde;es de anos, a temperatura da Terra era 10 graus Celsius maior, assim como a concentra&ccedil;&atilde;o de CO2. Naquela ocasi&atilde;o, esse g&aacute;s era emitido pelos vulc&otilde;es. Desde ent&atilde;o, a atividade dos vulc&otilde;es diminuiu significativamente, mas o CO2 passou a ser emitido por outras fontes, como as ind&uacute;strias&quot;.</p> <p> &quot;Por isso, o impacto desse material (lama t&oacute;xica) pode induzir a reprodu&ccedil;&atilde;o do clima daquele per&iacute;odo&quot;.</p> <p> <strong>Multas</strong></p> <p> Na quinta-feira, a Justi&ccedil;a Federal do Esp&iacute;rito Santo determinou que a Samarco apresentasse e adotasse em 24 horas medidas para barrar a chegada ao litoral capixaba da lama oriunda do rompimento da barragem em Mariana. Se n&atilde;o cumprir a decis&atilde;o, a mineradora ser&aacute; multada em R$ 10 milh&otilde;es por dia.</p> <p> A empresa j&aacute; havia sido multada em R$ 250 milh&otilde;es pelo Ibama na semana passada. Caso a lama chegue ao mar, o &oacute;rg&atilde;o prev&ecirc; novas multas, cada uma no valor m&aacute;ximo de R$ 50 milh&otilde;es.</p> <p> Tamb&eacute;m na semana passada, a Justi&ccedil;a de Minas Gerais determinou o bloqueio de R$ 350 milh&otilde;es na conta da Samarco. O montante dever&aacute; ser revertido para repara&ccedil;&atilde;o dos danos &agrave;s v&iacute;timas do desastre, que j&aacute; produziu mais de 500 desabrigados.</p> <p> Procurada pela BBC Brasil, a Samarco informou que est&aacute; tomando &quot;provid&ecirc;ncias para mitigar as consequ&ecirc;ncias geradas com o avan&ccedil;o da mancha pelo Rio Doce, no Esp&iacute;rito Santo&quot;. Diz ainda ter iniciado &quot;a coleta de amostras de &aacute;gua nos trechos impactados&quot;.</p> <p> &quot;Nove mil metros de barreiras de conten&ccedil;&atilde;o offshore e Sea Fence come&ccedil;aram a ser instaladas 18/11, na foz do Rio Doce, no Esp&iacute;rito Santo. Outra a&ccedil;&atilde;o em andamento &eacute; o resgate de esp&eacute;cies de ictiofauna (peixes), principalmente aquelas end&ecirc;micas e amea&ccedil;adas de extin&ccedil;&atilde;o, nas regi&otilde;es de Baixo Guandu, Colatina e Linhares &ndash; Reg&ecirc;ncia, seguindo as diretrizes t&eacute;cnicas do Ibama e Iema&quot;, disse a empresa, em nota.</p>

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