13/01/2015 08h13
Os Sinos: Contra o fanatismo e a intoler?ncia
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Há pouco mais de 100 anos, em 31 de julho de 1914, véspera do início da Grande Guerra, o jornalista e socialista Jean Jaurès, fundador do L’Humanité, foi assassinado por um exaltado nacionalista franco-alsaciano que pretendia calar o admirável tribuno pacifista.</p>
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Àquela altura a guerra era inevitável: começou três dias depois, prolongou-se por quatro anos, gerou outra guerra vinte anos depois. Hoje a Alsácia é uma passagem livre entre a França e a Alemanha, ambas pilares da União Europeia.</p>
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Jaurès caiu mas não se calou. Continua símbolo da luta contra o fanatismo, a xenofobia e a intolerância, patrono do partido da humanidade.</p>
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O tunisino Georges Wolinsky, seu chefe Stephane Charbonnier, o Charb (editor do semanário Charlie Hebdo), o vice, três outros cartunistas-estrela, um revisor de origem árabe, uma psicanalista e um crítico literário (colunistas), um funcionário de um prédio vizinho e dois policiais (um de origem árabe) morreram no local. O banho de sangue deixou ainda 11 feridos, sendo quatro em estado grave. Todos fuzilados por ofender o profeta Maomé.</p>
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Em poucas horas o mundo se levantou movido por uma indignação contida, até certo ponto serena, incrivelmente criativa. Com hashtags lembrando Charlie (Charles Brown), a língua francesa até quarta-feira (7/1) mergulhada num imerecido ostracismo foi subitamente revivida como expressão do Iluminismo, da Solidariedade, dos Direitos Universais do Homem e do trinômio humanista Liberté-Egalité-Fraternité.</p>
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<strong>Lápis de cor</strong></p>
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Os sicários são supostamente fanáticos religiosos e, sob o ponto de vista técnico, terroristas clássicos – agentes da intimidação, da chantagem e da indigência política. Serviram-se da imprensa para que a imprensa servisse à estratégia da brutalidade.</p>
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Tal como em 11 de Setembro de 2001, não têm uma pauta específica de reivindicações, estão a serviço de um projeto político tacanho, estúpido – a disseminação global da discórdia e do medo.</p>
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No momento em que na Alemanha intelectuais e estadistas convocam a sociedade para lembrar o passado e desativar o rancor anti-islâmico, o jihadismo vai na contramão: aposta na radicalização, força confrontos, estimula revanches e represálias das facções neofascistas contra as comunidades de origem árabe, africana ou muçulmana.</p>
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Mesmo que as lideranças das comunidades islâmicas da Europa ocidental estejam mais interessadas no processo de integração, coabitação e convivência, os radicais sabem que alguns segmentos – sobretudo os mais jovens e mais vulneráveis à crise econômica – acabarão se desgarrando do mainstream e embarcando na insanidade do terror. Serão os jihadistas de amanhã. E eles precisam ser salvos da fascinação pelo martírio.</p>
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Empunhando lápis, lápis de cor, lapiseiras e crayons – como se viu na quarta-feira (7) nas praças do mundo livre – será possível desenhar um novo modo de vida onde a sátira e o humor deixem de ser profissões de risco. E o jornalismo volte a ser uma profissão romântica.</p>
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<strong>Relativismo moral</strong></p>
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Como sempre acontece em eventos políticos extremos, já apareceram os relativistas, os experts em justificações. Lamentam a violência, repudiam o derramamento de sangue, solidarizam-se com as vítimas inocentes, mas... pedem compreensão para os motivos que geraram a barbárie. Na quarta-feira (7/1), na rádio CBN, em torno das 15 horas, uma especialista oriunda de uma das mais importantes universidades brasileiras explicou que os focos de radicalismo em algumas comunidades árabes da França originam-se na anexação da Argélia no século 19. E docemente acusou a direção da Charlie Hebdo – recém-assassinada, sequer sepultada – de explorar o ressentimento anti-islâmico para escapar da falência.</p>
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<em>Por Alberto Dines / Observatório da Imprensa</em></p>