Bom Dia - O Diário do Médio Piracicaba

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17/10/2014 09h23

Os Sinos - Como manipular uma pesquisa

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<p> As duas pesquisas de inten&ccedil;&atilde;o de voto divulgadas nesta quinta-feira (16/10) proporcionam um bom exemplo para a an&aacute;lise do protagonismo da imprensa na disputa eleitoral. O Estado de S. Paulo proclama: &ldquo;A&eacute;cio e Dilma mant&ecirc;m empate t&eacute;cnico, apontam pesquisas&rdquo;. A Folha de S. Paulo anuncia: &ldquo;A 11 dias da elei&ccedil;&atilde;o, A&eacute;cio e Dilma mant&ecirc;m empate&rdquo;. O Globo afirma: &ldquo;Disputa fica est&aacute;vel apesar de agress&otilde;es&rdquo;.</p> <p> Nas linhas finas, os tr&ecirc;s jornais procuram destacar uma suposta vantagem num&eacute;rica do candidato do PSDB, sendo que o Globo faz uma rela&ccedil;&atilde;o direta entre as trocas de acusa&ccedil;&otilde;es nas propagandas eleitorais e o resultado das consultas do Ibope e do Datafolha.</p> <p> Tamb&eacute;m h&aacute; an&aacute;lises observando que o apoio dado ao senador A&eacute;cio Neves pela ex-ministra Marina Silva e pela fam&iacute;lia do falecido ex-governador Eduardo Campos n&atilde;o ajudou muito o candidato. O Datafolha sugere, ali&aacute;s, que o apoio de Marina mais atrapalha do que favorece o ex-governador de Minas.</p> <p> Pesquisas devem ser levadas a s&eacute;rio, porque s&atilde;o usadas intensamente pelos partidos pol&iacute;ticos e alimentam a pauta da imprensa. No entanto, &eacute; preciso desconfiar quando duas consultas feitas em datas diferentes apresentam resultados iguais, principalmente se se considerar que entre uma e outra ocorreram fatos relevantes, capazes de mudar as convic&ccedil;&otilde;es de muitos eleitores.</p> <p> O Ibope colheu seus dados entre os dias 12 e 14/10, antes do debate realizado pela TV Bandeirantes na noite de ter&ccedil;a-feira (14), e o Datafolha saiu a campo no dia 14 e no dia seguinte, ou seja, sua amostragem foi parcialmente influenciada pelo debate.</p> <p> &nbsp;</p> <p> Os analistas da m&iacute;dia reconhecem que esse foi um divisor de &aacute;guas, por colocar os oponentes, pela primeira vez, questionando-se diretamente um ao outro, sem a interven&ccedil;&atilde;o de jornalistas e de outros candidatos.</p> <p> O Estado de S. Paulo apresenta um quadro onde considera o debate relevante para as escolhas dos eleitores, mas n&atilde;o explica por que ele foi parar ali, uma vez que o fato aconteceu depois da pesquisa Ibope. Portanto, seria de se esperar que o resultado do Datafolha viesse ao menos ligeiramente diferente dos indicadores do Ibope.</p> <p> Mas essa ainda &eacute; uma quest&atilde;o menor.</p> <p> <strong>A lavagem de factoides</strong></p> <p> Nos anos 1980, jornalistas da revista Veja chamavam de &ldquo;a m&atilde;o peluda&rdquo; as interven&ccedil;&otilde;es do ent&atilde;o diretor de reda&ccedil;&atilde;o, Roberto Guzzo, em seus textos. Era uma forma bem-humorada de protestar contra a homogeneiza&ccedil;&atilde;o do estilo, que, posteriormente, degenerou para o panfletarismo puro e simples.</p> <p> Pois a &ldquo;m&atilde;o peluda&rdquo; pode ser flagrada na cobertura eleitoral dos principais ve&iacute;culos de comunica&ccedil;&atilde;o do Pa&iacute;s, num jogo que come&ccedil;a na pauta e continua nas pesquisas de inten&ccedil;&atilde;o de voto.</p> <p> Vejamos, ent&atilde;o, como funciona: a imprensa hegem&ocirc;nica martela sem cessar um assunto que &eacute; desfavor&aacute;vel a um dos candidatos. Nem &eacute; preciso demonstrar, mas at&eacute; mesmo o leitor mais fiel sabe que o notici&aacute;rio &eacute; predominantemente negativo para a candidata do Partido dos Trabalhadores, enquanto seu oponente &eacute; poupado em n&iacute;vel de vassalagem. Ent&atilde;o, o tema central do bombardeio contra a candidata petista vai parar nos formul&aacute;rios que os pesquisadores levam a campo. E muitas respostas, evidentemente, podem ser influenciadas.</p> <p> A manobra &eacute; denunciada por eleitores nas redes sociais, e o question&aacute;rio inteiro da pesquisa pode ser conferido no site do Tribunal Superior Eleitoral (ver aqui).</p> <p> Na pergunta 22 da pesquisa Datafolha, por exemplo, o eleitor ouve o seguinte: &ldquo;Voc&ecirc; tomou conhecimento das den&uacute;ncias de um ex-diretor da Petrobras que envolvem o pagamento de propinas em contratos da empresa para tr&ecirc;s partidos: PT, PP e PMDB?&rdquo; Ent&atilde;o, o pesquisador pergunta se o entrevistado acredita ter havido o pagamento de propinas, e depois questiona se essas den&uacute;ncias deveriam ser divulgadas durante a campanha ou s&oacute; depois do segundo turno. Nas duas perguntas seguintes, o pesquisador envolve diretamente a presidente da Rep&uacute;blica no esc&acirc;ndalo, com a seguinte pergunta (P.25): &ldquo;Na sua opini&atilde;o, a presidente Dilma Rousseff tem ou n&atilde;o responsabilidade no caso de corrup&ccedil;&atilde;o em neg&oacute;cios da Petrobras?&rdquo; E o pacote &eacute; fechado por uma quest&atilde;o sobre a eventual influ&ecirc;ncia das den&uacute;ncias na defini&ccedil;&atilde;o do voto do pesquisado.</p> <p> O esc&acirc;ndalo montado pela imprensa a partir de declara&ccedil;&otilde;es fragmentadas, vazadas seletivamente de um processo criminal, vai para a pesquisa e depois volta para o notici&aacute;rio. &Eacute; assim que funciona a &ldquo;lavagem&rdquo; de factoides.</p> <p align="right"> <em>Por Luciano Martins Costa em 16/10/2014 na edi&ccedil;&atilde;o 820</em></p> <p align="right"> <em>Observat&oacute;rio da Imprensa</em></p>

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