Bom Dia - O Diário do Médio Piracicaba

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16/04/2014 10h03

Lusco & Fusco - James Bond voltou para casa

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<div id="cke_pastebin"> James Bond abandonou tudo. Cansou. Viu de perto a morte e se mandou para uma ilha desabitada da costa irlandesa. Hoje vive acompanhado por um c&atilde;o. Permanece quieto em suas roupas maltrapilhas, sem incomodar o mundo. Mr. Bond deixou de curtir a vida de glamour reservada &agrave;s grandes figuras.</div> <div id="cke_pastebin"> Pascal Whelan &eacute; o James Bond em quest&atilde;o. Ele trabalhou como dubl&ecirc; em um filme da s&eacute;rie de espionagem. Era de Hollywood. Atuou tamb&eacute;m no cl&aacute;ssico e mitol&oacute;gico Crocodilo Dundee. E em outros v&aacute;rios filmes e programas de TV mundo afora. Hoje, mora em Omey, uma ilhota deserta cujo cen&aacute;rio &eacute; um depressivo amontoado de rocas abra&ccedil;ado pelo mar frio e desbotado, al&eacute;m de um fino e constante nevoeiro que convida ao caf&eacute;. Whelan nasceu na ilha e dela saiu aos seis anos.</div> <div id="cke_pastebin"> A guinada radical veio depois que o dubl&ecirc; presenciou a morte de um amigo de profiss&atilde;o. Caiu de uma altura de quase 25 metros depois que a grava&ccedil;&atilde;o de uma cena n&atilde;o saiu como planejada. Percebeu ali que n&atilde;o valia a pena colocar a vida em jogo, decis&atilde;o que cada um de n&oacute;s tem de tomar mais cedo ou mais tarde. O sal foi-se embora.</div> <div id="cke_pastebin"> No inverno, o homem que teve a honra de ocupar o lugar de Roger Moore em &quot;Viva e Deixe Morrer&quot; passa meses sem ver outro ser humano. Nada pode ser mais perigoso que outro ser humano, nem mesmo o corpo em chamas ou os saltos das motocicletas em queda.</div> <div id="cke_pastebin"> Pascal Whelan retornou ao &uacute;tero g&eacute;lido e hostil, que na d&eacute;cada de 1940 abrigava outros 400 moradores. Foi buscar prote&ccedil;&atilde;o no lugar mais improv&aacute;vel, no seio da solid&atilde;o. E l&aacute; permanece, aos 71 anos. Diz que a terra natal tinha grande esp&iacute;rito de comunidade, onde todos se ajudavam, algo que faria os comunistas chorarem de alegria.&nbsp;</div> <div id="cke_pastebin"> N&atilde;o havia eletricidade, g&aacute;s ou &aacute;gua corrente, mas, ainda assim, durante a II Guerra Mundial, enquanto metade da Europa definhava o torr&atilde;o de Omey provia alimentos. Pascal se recorda do tio ca&ccedil;ando coelhos. Ele p&otilde;e o p&eacute; na inf&acirc;ncia que o protegeu do mundo enquanto p&ocirc;de.&nbsp;</div> <div id="cke_pastebin"> Certeiro, o dubl&ecirc; rememora que sempre interpretava os caras maus e, invariavelmente, morria nos filmes. Talvez esteja agora em busca do perd&atilde;o concedido pelo isolamento. Com um baralho sujo e esfarelado, passa horas manipulando o solit&aacute;rio jogo de paci&ecirc;ncia. H&aacute; mais de 10 anos ele est&aacute; l&aacute;, jogando cartas contra o destino.</div> <div id="cke_pastebin"> Sem camisa e sem sapatos, exibe uma grossa linha vermelha na lateral esquerda do tronco, um rasgo de respeito ganho com o suor do trabalho. Ele posa para o fot&oacute;grafo que o descobriu ap&oacute;s dar-lhe carona numa estrada pr&oacute;xima &agrave; ilha, na parte continental da Irlanda.&nbsp;</div> <div id="cke_pastebin"> Kevin Griffin &eacute; nome do descobridor. Publicou um livro de fotos do ermit&atilde;o clicadas entre 2008 e 2013. Fez um excelente trabalho a partir dos peda&ccedil;os de um homem que ainda guarda a cama de pregos dos tempos de dubl&ecirc;. Parece n&atilde;o querer se livrar da espinhosa ang&uacute;stia.</div> <div id="cke_pastebin"> Alguns podem crer que o nosso James Bond retornou ao ber&ccedil;o em busca de leveza, ou se rendeu ao medo, quem sabe. N&atilde;o, Bond est&aacute; com nojo. A morte do amigo apenas abriu seus olhos. N&atilde;o morra em v&atilde;o por esse dinossauro que engoliu seu cora&ccedil;&atilde;o, disse-lhe. Desapare&ccedil;a sobriamente envolto pela neve, sem um sorriso, sem um grito, sem dor, sem luz. Apenas v&aacute; e desapare&ccedil;a.</div> <div id="cke_pastebin"> Pascal Whelan descobriu que de nada adianta colocar fogo no corpo quando, na verdade, o calor tem de vir de dentro. Enquanto as brasas da alma minguam, as cinzas do esp&iacute;rito se espalham, carregadas por uma rajada de ar vinda de um passado simples e do tamanho certo, perfeito para sentir calmamente o universo.</div>

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